Por Judson Sales
O prefeito do Rio anunciou esta semana um corte de 50% no investimento da prefeitura do carnaval das Escolas de Samba. Em resposta, a Liga anunciou ontem que não haverá carnaval no Rio ano que vem. À parte os blefes de cada lado, é um momento importante pra discutir a importância do investimento no carnaval e o argumento fácil (e mesquinho) de alguns governantes.
O populismo barato do prefeito do Rio é covarde. Ao dizer que o dinheiro do carnaval vai para as crianças carentes, apela de maneira tacanha ao “bom mocismo”, afinal: Quem é contra essas medidas, é contra as crianças. E quem faria isso? Só esse povo do carnaval, que prefere gastar dinheiro público com festa e pouca vergonha.
Pois bem, um dado aleatório mas importante: O custo anual de manutenção da Torre Eiffel (confirma aqui: https://goo.gl/mib7O2) é de 70 milhões. Tudo isso pra manter aberto um pedaço de ferro. Não seria melhor usar esse dinheiro com algo mais nobre? Obviamente não, porque esse dinheiro faz parte de um investimento maior. O turismo de Paris não é só a torre, mas a torre é uma parte muito importante do turismo, quer você suba ou não no monumento. E esse turismo gera pra França a bagatela de 500 BILHÕES de reais por ano (confira: https://goo.gl/Xxq305). Isso é equivalente a tudo o que se produz no estado do Rio de Janeiro durante um ano (confira: https://goo.gl/bxKv18)
Não gosto de usar isso como argumento de autoridade, mas vou apelar a essa licença uma vez: Já visitei 40 países na vida. Estudo com calma o turismo de cada país e tento identificar o que há de mais único em cada cultura, tenha valor comercial ou não. E hoje tenho certeza absoluta que o carnaval é nosso bem mais único. Futebol e praias são coisas que se encontram mundo a fora com o mesmo nível de qualidade. Nossa culinária é boa pra nós, mas o mundo ignora a feijoada. Amazônia e Cataratas a gente divide com os vizinhos.
Noves fora, o carnaval (de Olinda ao Anhembi) é nossa Torre Eiffel. Esse corte de 12 milhões de reais no investimento é uma gota no orçamento da cidade, um alívio momentâneo, mas que pode gerar repercussão enorme no médio e longo prazo. Deixa de sair um pouco agora, pra deixar de entrar muito mais no futuro, quando a falta de manutenção fizer ruir nossa torre.
Honestamente, odeio ter que falar de cultura como números econômicos. É contrário a tudo o que acredito. O investimento no carnaval pra mim se justifica por si só, ainda que não gerasse um centavo de receita. Mas pra mentes obtusas a gente tem que usar argumentos obtusos. Crivella não é obtuso. Sabe muito bem da importância econômica do Carnaval pra economia do Rio. Mas no momento atende aos interesses religiosos e conservadores que o elegeram. E, como quem tem “o-que-perder” tem medo, acho bom o povo de SP por as barbas de molho. Dória foi eleito com plataforma parecida.
Para os mais curiosos sobre o assunto, recomendo o livro “Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval” do Luiz Carlos Prestes Filho, que dá um belo panorama geral de como o carnaval das Escolas de Samba gera emprego e movimenta a economia da Cidade do Rio de Janeiro.
Judson Sales é especialista em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo, fotógrafo e estudioso da cultura popular pelo mundo e trabalha há 10 anos no Carnaval de São Paulo. Clique aqui e acesse seu blog.
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