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Papo de Arquibancada – Morada dos Milagres!

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Abre-alas da Mocidade Alegre em 2012

Toda escola de samba tem, ou pelo menos deveria ter, um grande samba para chamar de seu. Mesmo que só para ela, mesmo que só na opinião de sua comunidade, toda agremiação tem que ter o seu “Ita no Norte” ou o seu “Me dê a mão, me abraça”. Sabe como é?

Aquele samba que mexe com os melhores sentimentos que um sambista pode ter, aquele samba que faz você olhar para a arquibancada com orgulho, como quem diz: Estão me vendo? Estão me ouvindo? Essa é a minha escola!

Por isso, eu hoje me dispo de toda exatidão de quem estuda o carnaval e as escolas de samba, eu hoje irei abrir mão de todos os dados e informações que me levariam a construir uma narrativa cronológica sobre um desfile, eu deixarei de lado tudo isso, para falar única e exclusivamente de Emoção…

Como naquele samba de 2003, da escola carioca, Santa Cruz: “Salve, o sentimento do artista, que invade a alma do sambista e aquece o coração…”

Hoje eu quero falar da emoção que move a minha comunidade, mas antes disso um rápido adendo: “Sim, eu escrevo sobre carnaval, e sim, eu tenho uma escola de samba aqui em São Paulo e no Rio. Eu tenho a Portela que é meu grande amor, e a Mocidade Alegre, que é a emocão da minha vida”…

E, é dessa emoção que eu quero falar hoje, ela que move a Morada do Samba e atende pelo nome de OJUOBÁ!

Emerson e Adriana, primeiro casal da escola em 2012

Muitos dizem que em 2012 a Mocidade se reinventou, deixando de lado temas abstratos, para fazer uma homenagem a Jorge Amado tendo como fio condutor a obra Tenda dos Milagres, que trata do sincretismo do povo baiano. Na verdade, a escola sempre fez muito bem carnavais com temas afros, Ojuobá foi um resgate desses carnavais com temáticas africanas, o último havia sido em 2003 (Omi). E que resgate foi esse!

A Mocidade vinha mordida do ano anterior, devido a uma alegoria que não conseguiu entrar na avenida, lhe rendendo apenas um 7 lugar, fora isso, um mês antes do desfile o barracão da escola pegou fogo destruindo boa parte do que estava pronto, e naquele ano ainda tivemos na apuração o “CRIME” (mais um dos muitos vexames que tiram a credibilidade do nosso carnaval), dessa vez cometido por um irresponsável, mal intencionado, que, rasgou as notas do último quesito, fazendo com que o nosso grito de campeão fosse adiado por algumas horas…

Mas tudo isso se apequena, ou melhor, tudo isso se transmuta, virá combustível para a explosão que ocorre quando se ouve o TIMBAL tocando na introdução do Ojuobá, nota-se que mais do que um samba, Ojuobá virou um personagem importante para escola, tratado na primeira pessoa do singular.

Tentei buscar uma lógica para entender o que apossa da gente quando toca esse samba. Conversando com amigos da escola e olha que não são poucos, as respostas são as mais diferentes possíveis, mas todas desembocam num senso comum – a LIBERDADE! Há os que sentem tesão, os que choram, os que gritam, os que batem no peito, os que ficam mudam, os que pulam, os que incorporam, os que se desesperam de tanta felicidade… São tantas sensações, que quando você olha em sua volta, está todo mundo em transe, uma enorme euforia, como se o planeta fosse se acabar dali há alguns minutos e da melhor forma possível, com alegria, com samba!

A letra dele, em si, já perfeita, pegue a letra do Ojuobá, mostre-a a um professor de história do Brasil ou Literatura, você vai ver a quão rica e elaborada ela é, material de estudo para muitas e muitas aulas, isso sem falar em sua riqueza poética e melódica, mas aí quem sou para entrar nesse mérito? Não tenho embasamento musical, só tenho os meus ouvidos, que se alegram demais quando ouvem esse samba.

Um samba afro, tratando de um orixá tão forte como Xangô, talvez explique a energia que envolve o povo do bairro do Limão quando esse samba toca. Mas eu paro e penso.

Comissão de frente da escola emocionou o público

Não, nem todos ou a maior parte do povo “onde eu me incluo”, por mais simpatizante que seja, não é praticante ou entendedor a fundo das religiões afros.  Entretanto, quem vê de fora, acha que todos nós, sem exceção, temos os dois pés no terreiro. Graças a Deus, Saravá!

Superação, por tudo que ocorreu com a escola para ganhar esse carnaval, de fato, a comunidade se fez presente e fundamental para a Mocidade Alegre, quem duvidava que tinhamos um chão de verdade, viu no dia do incendio, diretores, destaques, ritmistas, componentes, ricos, pobres, médicos, analfabetos todos unidos, cobertos de cinzas e lágrimas, em um grande mutirão para salvar o que dava e depois em um mês reconstruir nosso carnaval.

Falando de mim, Danilo de Jesus, o 2012 foi meu primeiro ano como componente da Mocidade Alegre, já frequentava a escola há anos, mas nunca desfilava.

Minha ala era a POVO SANTO “coreografada, ensaiada à exaustão” – nós eramos em seis personagens que representavam a hierarquia que há dentro de uma casa de candomblé, a minha fantasia era de Ogã, belíssima! Eu lembro como se fosse hoje, álias não tem como esquecer, só quem já desfilou sabe como é quando de longe a gente vê aquele portal no ínicio da passarela todo iluminado, com as arquibancadas lotadas cantando o samba sua escola…

Ai no meio do desfile eu olho pra direita e vejo minha rainha de bateria no alto de uma espécie de “andaime” tocando um surdo, e de repente percebo que a bateria parar de tocar e todo Anhembi veio cantando o refrão do samba…

Não tinha como não ganhar aquele carnaval, desculpe se pareço arrogante, mas não é isso.

Poxa! Eu estou falando da minha escola, da minha emoção, do meu Ojuobá…

Exageros à parte, a verdade é que tudo podia acontecer, mas naquele ano, o título era nosso! Estava escrito e em forma de samba…

Naquele desfile tudo podia dar errado, que nada nos atingiria, naquela noite mais do que a Morada do Samba, nós eramos literalmente – a MORADA DOS MILAGRES.

Hoje eu carrego Ojuobá como tatuagem em meu antebraço direito, e as vezes quando tudo vai mal, eu cerro o meu punho e olho para ele, e me vem no meu peito, toda magia daquela noite…

Volta toda alegria que eu sinto quando canto esse samba!

Mais que um samba, hoje o Ojuobá para o componente da escola é um elo emocional que une toda comunidade ao nosso pavilhão, reafirmando o orgulho de ser Mocidade Alegre. (Clique Aqui e relembre o samba)

Saudações a minha Velha Guarda, meus amigos diretores, coordenadores, chefes de ala, meus componentes, a minha presidente Solange, leoa do samba, à nossa guerreira, porta voz de uma comunidade movida a emoção!

Esse é o meu povo, hoje eles são os meus Elos na vida, amigos que Ojuobá me deu, e olha, “Não mexe com a gente, que a gente não anda só”, nunca!

Até mais!!!

Danilo de Jesus

Instagram: @dnlsjs

Portelense de Espírito. Mocidade Alegre de Emoção.

Formado em Administração, pós-graduado em Gestão de Projetos e Estratégia de Negócios. Atualmente estuda Branding & Innovation. Escritor por vocação, hoje é titular da coluna semanal “Pra não acabar na Quarta-Feira” sobre Carnaval brasileiro para a página de Facebook “E por falar em Carnaval”. Faz parte do Departamento Cultural do G.R.C.E.S. Mocidade Alegre, onde já foi coordenador de Alas e Diretor de Harmonia, atualmente também coordena os Grupos Cênicos da Escola.

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