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Reportagem Especial da SASP – Mulheres do Morro da Casa Verde

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A presença feminina no mundo do samba vem conquistando um espaço cada vez maior nos últimos anos. Em um universo preconceituoso e tomado na maioria das vezes por homens, elas se destacam cada vez mais por suas lutas diárias e gestões incomparáveis. Pouco antes do carnaval 2018, a sempre irreverente, Dona Guga, Presidente de honra do Morro da Casa Verde recebeu a equipe de reportagem da SASP para contar a sua história dentro do carnaval paulistano e toda a sua luta ao longo desses anos.

Chegando na casa de Dona Guga, que por sinal abriga também o ateliê e a quadra da agremiação, fomos recebidos com um cafezinho tradicional da mesma, enquanto suas filhas finalizam o corte de um tecido no ateliê improvisado.

Dona Guga como sempre descontraída e irreverente, já aborda a equipe de uma maneira diferente, quando decide contar que uma vez na sua infância, ela pegou o bondinho que passava em frente à sua casa, com destino a Avenida São João, onde aconteciam os grandes desfiles da época. Sua mãe que em certa hora se deu conta que a mesma não estava mais em casa, foi atrás de Dona Guga no meio dos blocos e de toda festa que tomava conta das ruas do centro de São Paulo, porém a ida de sua mãe e a proibição foram em vão, pois Dona Guga afirma que aquele dia foi paixão à primeira vista pelo carnaval.

Entre um gole e outro de café, descobrimos que o Morro da Casa Verde foi fundado pelo seu falecido Pai e teve toda a sua história confeccionada pelas mãos dele e de Dona Guga. Desde a parte burocrática de se criar uma escola, até os instrumentos que eram confeccionados no quintal de sua própria casa. A casinha rosa no símbolo do pavilhão, é uma representação de uma casa rosa que existia em um antigo ‘’morro’’ no bairro da Casa Verde. Ela conta que seu pai enxergou essa casa rosa e resolveu colocar no maior símbolo da escola.

Ouvindo atentamente Dona Guga, sua filha Claudia Valéria (50), resolve completar uma frase da mãe ‘’ Só a gente sabe o que é ser Morro da Casa Verde’’. Claudia é a filha do meio de Dona Guga e é quem corta e costura algumas fantasias da escola. Além de ajudar na confecção, Claudia é a vice-presidente da agremiação e afirma, que nada sai do barracão da escola sem o seu aval: ‘’ eu não costuro tudo, pois são mais de 700 fantasias e eu não teria condições de realizar todo esse trabalho, mas nada sai para a avenida sem a minha última conferência’’. A filha do meio é funcionária de um posto de saúde, além de doar suas noites e muitas vezes madrugadas, para colocar a agremiação inteira na avenida.

                       Claudia Valéria é a filha à esquerda de Dona Guga.

Entre um café, o barulho do isqueiro e a máquina de costura, é possível perceber o silêncio que se instalou neste momento. Era o silêncio da saudade, da gratidão e do respeito que essas mulheres carregam pelo pavilhão. ‘’ eu só vou deixar isso aqui, quando eu tiver cantando aquela música da Alcione sabe? Quando eu não puder pisar mais na avenida, quando as minhas pernas não puderem aguentar… ‘’ Diz Dona Guga acabando com o silêncio e com os olhos marejados.

Nos olhares de Dona Guga era nítido acompanhar as piscadas cautelosas de quem aproveitou e ainda aproveita muita a vida, com a sua alma de sambista, com a simplicidade de colar uma fantasia e com a pureza que só quem ama uma escola de samba consegue compreender.

Botequim da SASP