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Com carinho, ao meu amigo Almir Guineto!

É Almir, você se foi meu amigo!

Mesmo não tendo o prazer de conhece-lo pessoalmente, apesar de ter ido em algumas apresentações, tenho a sensação que você sempre foi um amigo próximo, que estava para comemorar os bons momentos, mas principalmente, acalentar as angústias daqueles dias tristes, onde o refúgio vinha de suas canções, que tocavam a alma profundamente…

Você foi um cara que defendeu a bandeira do samba por todos momentos de seus 70 anos de vida, um dos principais alicerces desse ritmo genuinamente brasileiro. Começou ainda criança, pelas vielas do Morro do Salgueiro ou cantarolando em família, ao lado de dona Fia, seu Iraci e seu irmãos. Essa constante presença musical fez com que rapidamente o samba passasse de simples paixão para papel fundamental em sua história! Foi mestre da bateria Furiosa do Salgueiro, integrou o Originais do Samba, fundou o grupo Fundo de Quintal e encantou milhares de pessoas que curtiam as rodas de samba debaixo da famosa tamarineira do Cacique de Ramos.

Apaixonado pelo cavaquinho, você percebeu que o instrumento não era ouvido nas rodas de samba, já que o peso dos instrumentos de percussão cobria a suavidade do cavaco. Assim, a sua genialidade musical fez com que adaptasse o banjo americano, usando principalmente nas músicas country e conhecido por sua sonoridade forte, o trazendo para samba, assim criando uma tendência que até hoje é referência! O banjo é outro fator que me aproxima de ti amigo, o primeiro instrumento que tive, ganhei de presente da minha mãe, e foi amor a primeira vista! Confesso que 20 anos depois do presente, ainda não toco nem metade do que gostaria, mas sigo firme e forte com essa paixão, já que primeiro amor a gente nunca esquece!

Lá em cima eu falei das suas composições e que composições! Grande parte dos sambas preferidos por qualquer pessoa que esteja lendo esse texto é de sua autoria. Conselho, Insensato Destino, Mel na Boca, Lama nas Ruas e tantas outras composições que ultrapassaram os limites do planeta e foram parar em Marte!  Sim meu amigo Almir, em um mundo com tantos ritmos, tantas canções e tantos artistas renomados, justamente escolheram a composição, Coisinha do Pai, para botar o planeta vermelho pra sambar e despertar uma sonda americana em uma missão da Nasa! Quem diria que o filho da dona Fia ia tão longe, onde você chegou, nenhum mortal ainda conseguiu chegar…

Você foi longe meu amigo e hoje partiu para uma nova jornada! Nenhuma homenagem que fizermos aqui debaixo vai poder retribuir o bem que você fez para milhões e milhões de pessoas. O samba está de luto com tua partida, mas como toda despedida de sambista, vai ter muito partido alto para lhe homenagear!

Vá paz e continue iluminando o nosso samba, que hoje está em decadência, esquecido pela mídia e pelo grande público. Mas Nelson Sargento nos ensinou que o samba, que você tanto defendeu, pode agonizar, mas nunca morrerá!

 

 

 

Rodrigo Godoi, jornalista, sambista e editor-chefe da SASP.

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