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‘Acho que a criatividade precisa estar nas baterias’ – afirma Fernando Baggio

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Nascido na cidade de Aguaí-SP, Fernando Baggio deu seus primeiros passos no samba em uma agremiação da região. Mesmo pequeno, ele se fascinava pelas rodas de samba, e com isso se inseriu definitivamente na música, se tornando até mestre de bateria.

Em 2002, já em São Paulo, Fernando foi convidado a julgar as baterias do carnaval, até ser convidado pela LIGA para exercer o cargo de coordenador de julgamento. Função que permaneceu a curto prazo, até sair por questões pessoais. Hoje ele trabalha prestando consultoria para escolas e baterias de todo o Brasil, e apresentando palestras corporativas sobre o assunto.

“Esse é um trabalho que tem me ensinado muito. Basicamente, meu trabalho é analisar o projeto do ponto de vista do julgamento. Dentro dessa análise, eu busco o erro, a falha. Aquilo que está quase imperceptível aos ouvidos de quem está dentro, mas não passaria desapercebido por um bom jurado.”  E acrescenta “Estou muito feliz e satisfeito com o meu cargo. É um trabalho pioneiro, inovador.”

Muitos se surpreenderam com o critério de julgamento feito pelos jurados do último carnaval, principalmente por notas que prejudicaram algumas escolas. O instrumento tamborim foi bastante mencionado nas justificativas de notas.

“Reclamação sobre julgamento sempre vai haver. A questão é que hoje muita gente que não tem uma bateria nota 10, tenta resolver isso diminuindo a dificuldade do julgamento. O que não se pode é banalizar o 10.”

Uma das grandes ascenções nas baterias do brasil é a presença forte das mulheres, não apenas em um instrumento só, mas espalhadas por todos os naipes. Cada vez mais a mulher ganha seu espaço no mundo do samba, e sobre isso Fernando Baggio afirma:

“É muito importante estudar o papel da mulher no samba, o quanto ela batalha pra conquistar um outro tipo de espaço no mundo do samba. Ela sempre foi inserida, mas com contextos pontuais. Agora vemos mulheres ritmistas conquistando seu espaço, e em naipes diferentes”.

A bateria universitária da Casper Líbero se apresentou no torneio balatucada com cerca de 65% de mulheres, com presença de faixa escrita “respeite as minas”.

“A mulher tem sido um dos personagens mais valente em relação ao combate de minorias, então quando vejo uma bateria com a maioria feminina, eu respondo que é resultado de uma relação de cuidado e de apreço maior. A sensibilidade feminina é muito grande”.

Baggio também é conhecido pela sua rigorosidade na sua forma de julgar.

“Para uma bateria ser perfeita ela precisa basicamente, atender as regras do manual!(risos) Parece simples, mas a verdade é que poucos se atentam ao manual em suas preparações. O manual diz o que você pode e o que você não pode fazer. Um jurado não pode tirar ponto de absolutamente nada em que não esteja descrito no manual. Eu já ouvi questionamentos que não tinha como não descontar, pois não seguia o que o manual dizia. O manual pede para que os desenhos de caixas por exemplo, tenham definição, clareza. E sempre que pergunto para quem contesta, se a justificativa da perda de ponto mencionará algo em relação a nota perdida. O julgamento é totalmente em cima de um manual.“

Questionado pelo regulamento atual, Baggio defende:

“Eu julgo baseado em outro critério, um método que desenvolvi para mim, para ter o máximo de justiça dentro do item criatividade. Eu escrevi o item de criatividade para o Balatucada, maior competição de BUs. Foi muito bem recebido. Esse mesmo texto que está no manual do Balatucada, apenas com algumas alterações cabíveis pelas características de uma competição e a outra, eu apresentei a proposta à Liga muitos anos atrás, porém sem aprovação da Plenária. Hoje eu vejo mestre dizendo que os jurados estão coibindo a criatividade das baterias porque fazem julgamento rigoroso, e no medo de perder pontos as baterias não estão apresentando bossas nem nada. Fico indignado com esse tipo de argumento, porque isso não tem nada a ver com os jurados.”

Fernando Baggio está lançando um livro didático para bateria sobre samba, que escreveu junto com o baterista do grupo Casuarina, Diego Zangado.

Botequim da SASP