Olá, caros leitores! Hoje é mais um dia de minha coluna na SASP e não posso deixar de abordar o 20 de Novembro. Dia de consciência negra também é dia de reflexão sobre passado e presente, sobre esse laço extremamente forte com nossos ancestrais da nossa culinária até a cultura popular.
E o samba está mais do que inserido nesse processo. A arte centenária do riscado carrega a simbologia de quilombos e a resistência em prol da cultura africana em prosa e verso.
Sempre gosto de citara região do Bixiga, berço da Vai-Vai, como um incrível exemplo de espaço que busca reverenciar o passado e a luta de Dandaras, Mahins e Clementinas! E como precisamos de mais lugares para retirar a poeira das nossas memórias!
Acredito que cada escola de samba possui esse belíssimo (e eterno) papel cultural de respeito e resgate. O exemplo está no ritmo e no bailado, mas hoje gostaria de registrar meu imenso carinho e atenção para as sagradas mães do samba: nossas baianas!
Benzedeiras, pioneiras! Carregam patuás, arrudas e guinés na alma! Espalham o axé e os fundamentos da história do samba em cada novo giro nas passarelas do samba. Obrigado, rainhas! Lideranças de uma história que pode até agonizar, mas que jamais morrerá!
Tias baianas, eternas matriarcas do samba!
Benção para quem carrega a fé como legado
Lá nos fundos dos quintas de improviso
Nascia um ritmo que chegou através de negro aviso
Mas com espaço negado
A religião era pano de fundo para manter a aparência
Resgate intenso e profundo de África em essência.
Herança de diáspora africana
Sobrevive em ligação Rio-Bonfim, lindas tias baianas
Personificada na figura de tia Ciata
Com a força de ancestrais e o tempero nas brancas batas
Rodaram nas voltas da migração
Cada passo que semeia novos tempos
E transforma a alma de bamba em canção.
Axé para o pé descalço sagrado
Das ladeiras de Bahia para os morros e vielas de carioca boêmia
Rainhas que assinaram com propriedade o Carnaval e seus riscados
A homenagem insiste em uma ala com todos os merecidos predicados
Misto de riqueza através das cores
Com beleza das feijoadas em variados sabores
É uma história que passa na avenida e transpira aprendizados!
Matriarcas da cultura popular brasileira
Símbolos de sincretismo para nossa alma tão festeira
Mulheres que evocam as forças da natureza em feitio de mistério
Força das cachoeiras, das florestas e das espadas
Para encarar europeu hemisfério
Mães dos patuás, arrudas e guinés
Dos candeeiros e das oferendas no embalo das marés
Ancestralidade que da pele emana
Representatividade de tambores da alma africana!
Yuri Coloneze – carioca e portelense de berço e apaixonado pelo carnaval de São Paulo desde 2005.