Carregar a bandeira do samba envolve lutar constantemente contra a desinformação, infelizmente. No período de discussão sobre liberação de verbas para desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, o que mais me chamou a atenção em redes sociais foi o baixo conhecimento sobre o papel de uma agremiação.
Escola de samba não trabalha somente por três ou quatro meses. Escola de samba é reduto de cultura popular! Cada chão sagrado em cada quadra guarda um intenso trabalho com sua própria comunidade (em termos culturais e sociais).
E o mais curioso em tudo isso é perceber o quanto essa discussão é atemporal. Desde os tempos de tia Ciata e seus festejos em sua casa.
A história desta precursora do samba reflete a necessidade de se combater a desinformação e firmar ponto para defesa do nosso patrimônio cultural, de nossos ancestrais e de seus fundamentos!
Boa leitura!
Tia Ciata – A Negra mãe do samba
Nascida em Santo Amaro
Mulher da Bahia colonial tropicana
Alma de herança africana
Símbolo de força, carinho e amparo
Raiz de quituteira em tão nobre preparo
Uma doce e forte acolhida tipicamente baiana
Retrato singular da Bahia em diáspora constante
Resultado de uma atrasada canetada tão relutante
Hora de deixar o açoite na memória
E buscar nova terra para cultivar tua própria história
Uma melhor oportunidade era o maior alimento
Para reforçar essa migração de tamanho talento
E lá foi ela de mala pronta para o bairro da Saúde
Espaço de moradia barata e novo berço para a negritude
Perto do cais do porto
Era chamada de “Pequena África” para singelo conforto
Encontros de alforria eterna
Sementes deixadas através de som e da fé em feito de ligações maternas
A Praça onze forjou a sua própria tradição
Era chorinho na sala e samba em quintal
Na casa de Ciata, o batuque era respeitada instituição
Tempero em ritmo de força mais do que sentimental
Casa de donga, sinhô, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres
Laços de amor e trocas de africanos saberes
Salve a negra mãe do samba
Referência de carioca coração em peito de tanto bamba
Sagrada trajetória que deixou forte marca de cultural expressão
Pela liberdade de crença nas forças das matas e cachoeiras
Nas rodas musicais e de capoeiras
Guardar o sincretismo como sua eterna essência
Essa era Tia Ciata – Luz, luta, palavra e resistência!
Yuri Coloneze – carioca e portelense de berço e apaixonado pelo carnaval de São Paulo desde 2005.