* Por Rica Leite
Vivemos na maior cidade da América Latina e temos o orgulho de sediar “O Maior Espetáculo da Terra”. Mas, a maioria das escolas de samba sofre por falta de integrantes para ajudar no trabalho, por falta de componentes para ensaiar e colocar uma ideia inovadora na Avenida. Por quê? Onde nós – e digo nós porque sinto que todo sambista é parte responsável disso – estamos errando? Onde as escolas erram?
Podemos ver diversos trabalhos sociais, como escolinha de bateria, oficina de mestre-sala e porta-bandeira, mas entra ano e sai ano, grande parte das agremiações sofre com o mesmo problema. Falta a “mão de obra voluntária”, o folião, o apoio da iniciativa privada, o apoio para as escolas menores. Será que as regras engessaram muito o jeito de “Carnavalescar” do folião comum?
O grande desfile das escolas de samba vem perdendo espaço para outras formas de brincar o carnaval. Eventos que levam alegria a quem trabalha duro o ano todo, em sua sofrida rotina, e aproveitam durante quatro dias para descontrair, relaxar e brincar o carnaval. Os livros e manuais do julgador, nos últimos anos, vêm tentando se adaptar para que os desfiles fiquem propositalmente mais leves, mais soltos, mas ainda não vemos isso sendo praticado na Avenida. E minha pergunta a todos os sambistas é uma só: o que estamos fazendo para que o samba não morra?
A poesia eternizada na voz da Alcione é clara: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar!” Nós somos o agora. E as decisões que tomamos e seguimos hoje será a história contada no amanhã. Mas será que estamos escrevendo um bom enredo sobre o tema?
Gostaria de deixar uma reflexão, meio louca, claro, mas que será fácil de entender: se um marciano pousasse em São Paulo por engano, não conhecendo nada e nem ninguém, e por acaso entrasse em uma escola de samba, sem saber o que se passa lá, sem saber qual o principal propósito daquelas pessoas, ele iria gostar do que está vendo? Será que ele voltaria depois de uma primeira impressão? Será que ele deixaria de fazer outras coisas pela maior cidade da América Latina para voltar a uma quadra de escola de samba? Será que as pessoas que mandam nas escolas abraçariam esse novo marciano por quanto tempo antes de mostrar “quem manda no pedaço”?
Nossa! Quantas perguntas, hein!
Pois bem, meus amigos. Já pararam para pensar que temos milhões de marcianos espalhados pela cidade? Pessoas que nunca pisaram em uma escola de samba, que poderiam pousar em uma agremiação e serem apresentados a esse movimento emblemático da cultura brasileira. Se tratarmos com carinho, esse amor pode virar eterno, e assim poderíamos resolver o problema de público durante o ano todo. E acreditem: São Paulo está cheio de marcianos prontos para cair no samba e serem capturados.
Por que digo isso?
Porque há tempos tenho visto desfiles em que muitas pessoas estão “desfilando” soberba e arrogância, como se fossem destaques nas escolas de samba na frente da televisão. Como se fosse a oportunidade de ouro de virar artista, com camisas e status como se isso representasse poder. E o que achamos sobre isso? Pobres coitados, que não somam em nada no maior espetáculo da terra, limitados de conhecimento e esbanjadores de ignorância que só afastam ainda mais as pessoas que poderiam contribuir para engrandecer o evento.
As pessoas que gostam de samba não querem apenas o “poder”. Elas querem apenas se divertir no carnaval, acredite! Vamos trabalhar juntos para engrandecer o samba, aproximar as pessoas das nossas escolas, resgatar o significado da palavra C-O-M-U-N-I-D-A-D-E. Está em nossas mãos escrever a história. Podemos escolher o que irão ler no futuro. Vamos evoluir ou vamos afundar com o nosso evento? Você decide!
*Ricardo Leite, o Rica, saspiano, amante do carnaval, ritmista, harmonia, compositor e atua no time de comentarista da Sintonia SASP.