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Da bateria mirim ao microfone principal do Vai-Vai: Luiz Felipe conta sua trajetória e valoriza as crianças da escola

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Por Gabriella Lopes
Fotos: Felipe Araújo/Liga-SP e Igor Cantanhede/SASP

O carnaval de 2022 está sendo um dos mais aguardados pela comunidade do Bixiga, assim como para o intérprete oficial da Escola de Samba Vai-Vai, Luiz Felipe, que em entrevista exclusiva para a SASP contou um pouco sobre o sentimento de representar a agremiação em que foi nascido e criado e em um ano tão importante, que marca o retorno da alvinegra ao Grupo Especial do carnaval de São Paulo.

“O sentimento é maravilhoso, é único. Eu ouço as pessoas falarem o quanto esse ano será importante para a escola, mas estando muito focado dentro do Vai-Vai é difícil ter uma visão de fora e ter a noção total da responsabilidade que é. E pretendo me manter assim por enquanto para não ficar tão nervoso. Mas é um momento único e sempre que eu estou com o microfone na mão, junto com a minha comunidade, eu vivo esse momento ao máximo como se fosse a última vez”, diz Luiz.

Segundo ele, o rebaixamento da escola em 2019 ainda é uma ferida aberta, mas está servindo como motivação para a preparação do carnaval de 2022. “O carnaval deste ano é algo que estamos querendo muito, estamos com muita fome, com muita vontade de entrar na avenida. O samba vem crescendo a cada domingo, a cada ensaio, e a comunidade está alvoroçada querendo mostrar o porquê subimos e porquê vamos nos manter no Grupo Especial, se Deus quiser”.

A música venceu

Cria da escola, Luiz Felipe está no Vai-Vai desde que nasceu, mas por motivos de saúde precisou se manter afastado da folia nos primeiros anos de vida. “Como eu costumo dizer, assim como todo mundo que é nascido e criado lá, nós estamos no Vai-Vai desde ‘zero meses’. Como tenho 27 anos, estou na escola todos esses anos, desde a barriga da minha mãe. Mas como nasci com um sopro no coração, não podia ficar muito emocionado se não corria risco de morte, então eu fiquei afastado das atividades do Vai-Vai no começo. Eu só ia em um ensaio ou outro para não morrer em casa com vontade de ir”, comenta o cantor.

Com a liberação médica em mãos em 2005, começou a desfilar em 2006, já com seus 12 anos, na ala das crianças. Desde então, possui um currículo extenso dentro da escola: já foi da bateria mirim, de 2007 a 2017 esteve na ala dos compositores, fez parte da bateria Pegada de Macaco, tocando surdo e sendo comandado pelo Mestre Tadeu, foi para a ala musical e estreou como intérprete oficial em 2020, ao lado de Washington. Nesse meio tempo, circulou por outras agremiações também, já foi intérprete da Lavapés entre 2015 e 2017 e da TUP em 2018 e 2019, mas precisou sair pois os dias dos ensaios coincidiam com os do Vai-Vai.

Depois dessa longa trajetória, ele vem como voz principal da agremiação no carnaval de 2022. Para o intérprete, ocupar esse cargo nunca foi um sonho, a vontade dele era apenas ter uma oportunidade de cantar na ala musical da escola, mas os caminhos foram se abrindo e o levaram até a posição atual. “O objetivo não era ser intérprete, eu queria fazer parte da ala musical, eu só queria cantar. Sempre que alguém faltava por causa de agenda ou outros compromissos, acabava sobrando pra mim e eu fui pegando gosto por isso”, explica Luiz.

O futuro do Vai-Vai

No bate-papo com a equipe da SASP, o intérprete aproveitou para deixar uma mensagem de incentivo para as crianças do Vai-Vai. “Muitas pessoas acham que quem é da escola não consegue nada e eu venho mostrando que não, é só a gente querer. Infelizmente nós não tivemos a ala das crianças no último ensaio técnico, mas sempre que tenho a oportunidade de estar com elas em alguma conversa ou palestra, eu falo: o que elas quiserem ser, elas vão ser! Se quiserem ser ritmistas, se quiserem cantar, se quiserem ser intérpretes, passistas ou musas vão ser, basta querer. Se eu estou aqui hoje é porque eu comecei lá como eles, quis estar aqui e não desisti, independente das dificuldades”.

No último ensaio técnico, a agremiação entrou na avenida sem as crianças da comunidade, por conta da determinação judicial Nº 01/2022 da Vara da Infância e Juventude, que proíbe participação de menores de 12 anos em ensaios técnicos e desfiles. Na decisão de janeiro, proferida pela juíza Maria de Fátima Pereira da Costa, a magistrada menciona que até aquele momento apenas maiores de 12 anos que haviam sido vacinados contra a covid-19 poderiam participar. Como protesto, a escola da Bela Vista levou alguns cartazes com os dizeres “Pertencer ao carnaval é um ato de resistência” e “O carnaval também é para as crianças”.

Em 2022, o Vai-Vai levará para a avenida o enredo “Sankofa”, desenvolvido pelo carnavalesco Chico Spinosa. A escola ainda realizará mais um ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi e será a primeira a desfilar no dia 23 de abril, sábado, pelo Grupo Especial.

Botequim da SASP