Apagam-se as luzes, fecham-se as cortinas, encerra-se o maior espetáculo da terra, ou melhor, pausa-se o maior espetáculo da terra!
Chegamos na pior época do ano para o sambista, aquela época de quadras fechadas, barracão parado, ou melhor, começando o desmanche. Já começam as expectativas para anúncios dos enredos, cronogramas de 2019, afinal o show não pode parar. Porém estamos na hora de repensar, avaliar os erros, sem soberba e arrogância, onde foram as falhas, onde estão os pontos fracos da escola, onde é preciso melhorar?!
Quatro escolas dividiram a primeira colocação, o carnaval 2018 foi decidido no critério de desempate, alto nível dos desfiles apresentados? Distribuição gratuitas de notas 10? Não entrarei no mérito das notas nesse momento, porém esse é um tema que gostaria de abordar com mais calma em um futuro breve.
Nesse momento gostaria de falar da palavra da moda no carnaval, Planejamento. Por que palavra da moda? Porque o carnaval mudou meus amigos, hoje em dia não temos mais espaço para amadorismo, não temos mais espaço para erros, erros dentro da pista sempre aconteceram e sempre irão acontecer, porém não temos mais espaço para erros fora dela. Mais um ano vimos e ficamos sabendo de diversas escolas com os componentes sem receber a fantasia, faltando minutos para o desfile, componentes cortados porque não “chegaram” as fantasias, carros com acabamentos improvisados, pois “não chegou material”, harmonias que não estavam na montagem da escola porque ainda estavam colando plumas em fantasias e assim vai…
Todas as escolas encontram muitas dificuldades no meio do caminho, isso é inegável, problemas financeiros são muito comuns dentro das escolas, porém não podemos deixar a criatividade ser refém da “verba de carnaval”, o carnaval tem data certa, essa data não irá mudar só porque o “patrocínio” não veio, ou porque a verba atrasou. Não podemos abusar do amor do integrante da escola aos 45 do segundo tempo, fazendo com que ele cole a fantasia “por amor”, enquanto vemos desfiles de soberba e arrogância pelo Anhembi, infelizmente vivemos em uma sociedade que não sabe, ou não aceita criticas, preferem acreditar em perseguição, ou talvez em “vontade de derrubar” alguém. Mas meus amigos, não existe perseguição e nem vontade de derrubar ninguém, existe vontade de ver um carnaval das escolas de samba cada vez mais grandioso, na segunda de carnaval vimos uma das maiores avenidas da cidade, a famosa 23 de maio, lotada de foliões pulando em blocos, enquanto as escolas do grupo de acesso 2 desfilavam para poucas pessoas no Anhembi. E se não deixarmos a soberba e a arrogância de lado veremos um fatídico final do carnaval das escolas de samba, ou talvez uma necessária transformação dos desfiles.
O Planejamento venceu, as escolas que executaram o projeto de longo prazo com perfeição, colhem os resultados no final da apuração.
Em 2010, Acadêmicos do Tatuapé brigava no grupo 1 da UESP, assim como a Colorado do Brás, que passava pela mesma situação, mas desfilando no Grupo 3. Hoje, uma comemora o bicampeonato do grupo Especial e a outra o acesso à elite do samba paulistano, depois de 25 anos afastada. Sem contar escolas como Mocidade Alegre, que mudou o seu formato de gestão em 2002, sendo uma das pioneiras a trabalhar com planejamento e foco na execução, e que em 2003 começou a colher frutos desse planejamento. Hoje em dia é comum ver a Morada do Samba levantando a taça ou estando nos desfiles das campeãs.
A Águia de ouro, a escola campeã do grupo de acesso, é outra prova que é necessário o planejamento. A escola vem se planejando para brigar entre das campeãs do grupo especial, teve que “pagar” em 2018 o grupo de acesso por erros cometido no planejamento de 2017, porém mostrou que com planejamento correto e foco é possível fazer um carnaval grandioso, que abrilhantará os olhos dos espectadores e de seus componentes, que sentem cada vez mais orgulho de fazer parte dessas agremiações.
Mas não é só nos grupos Especial e de Acesso que vemos os resultados de um planejamento bem executado, um exemplo disso, veio do grupo de Acesso 2, com a vitória da Mocidade Unida da Mooca, que nos últimos dois anos se planejou, após uma queda ao grupo 2 da UESP, em 2015, e no próximo ano estará no grupo de Acesso competindo em pé de igualdade com tradicionais agremiações em busca de uma vaga no grupo Especial. Tivemos também a acensão da Primeira da Cidade Líder, uma escola que após anos suspensa, conseguiu em 2018 seu terceiro acesso seguido, chegando ao grupo de Acesso 2, em 2019.
Parabenizo todas as escolas que trabalharam duro para a execução do planejamento bem feito, escolas que os “votos populares” colocavam na parte de baixo da tabela, não foram campeãs apenas por critério de desempate, como Mancha Verde e Tom Maior, por exemplo, que fizeram grandiosos desfiles surpreendendo à todos, claro, menos as pessoas que trabalharam duro o ano inteiro dentro das dessas entidades para colocar em prática o trabalho vem sendo planejado, para essas pessoas isso não foi surpresa, foi apenas a colheita de um trabalho árduo!
Enfim meus amigos, espero que não levem essa mensagem como uma crítica em especifico, sei que não citei aqui outras escolas que também contém excelentes trabalhos de planejamento e execução de um carnaval grandioso, como mencionei acima, os erros de pistas acontecem, quando não acontecerem acho que perderá a graça dos desfiles, porém são esses erros, que devem ditar o campeão do carnaval, não podemos ter escolas na concentração que já entram derrotas, como vimos esse ano!
Torço para que o planejamento de todas as escolas já esteja em execução para 2019, pois só assim teremos a certeza que esses erros infantis serão corrigidos e o maior espetáculo da terra dará novamente um show de beleza e competência na avenida!
Um abraço a todos e nos vemos pelos sambas da vida!
*Ricardo Leite, o Rica, saspiano, amante do carnaval, ritmista, harmonia, compositor e atua no time de comentarista da Sintonia SASP.
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