Por Flávio Ismerim
Chegou a vez da Tom Maior ganhar seu espaço aqui na nossa série Gente do Samba. E quem fala representando a Vermelho e Amarelo é o diretor de harmonia Yves Alexeiv, que conversou com a SASP sobre sua trajetória na agremiação, comemorou a maturidade da equipe que cuida do segmento na escola e criticou o julgamento que, segundo ele, deixou de premiar o espetáculo para punir erros.
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Yves chefia a direção de harmonia da Tom Maior desde o carnaval de 2014, mas foi no Barroca Zona Sul que ele deu seus primeiros passos no carnaval. Um amigo, que era na época diretor de harmonia da agremiação, fez o convite para que ele fosse à festa dos pilotos da escola para o carnaval de 2006 e foi ali que tudo começou. “Eu fui e foi amor instantâneo. Acompanhando aquela festa grandiosa, vendo como era a organização e tudo. Ele já me chamou pra desfilar no mesmo ano, mas eu falei ‘eu não quero desfilar com fantasia, não. Eu quero fazer isso aí, eu quero ajudar a organizar’”, contou.
Desde o começo, o negócio de Yves não era desfilar no carnaval como componente. Seus olhos brilharam mesmo com os bastidores da festa. “Eu nunca fui muito de curtir o carnaval participando, mas eu realmente me apaixonei pela organização, por toda aquela coisa que envolve a festa. Do preparo, do planejamento todo que envolvia apresentação”, explicou.
Já na preparação para o carnaval de 2007 ele se juntou à equipe de harmonia da escola e ficou por lá até 2010, quando resolveu se afastar do carnaval para casar. Na volta, em 2013, boa parte do seu antigo time de harmonia do Barroca tinha migrado para a Tom Maior e ele acabou se dividindo entre as duas escolas.
Chegando na Vermelho e Amarelo bem no início da gestão da atual presidente Luciana Silva, Yves conta que se sentiu acolhido como nunca. Lá, ele tinha voz e a diretora escutaria suas opiniões, mesmo que não fossem colocar seus palpites em prática. “A Luciana tem uma facilidade de entrar na quadra, conversar com todo mundo. Ela não tem um pedestal onde ela fique isolada. Durante o ensaio da Tom Maior, ela tá circulando no meio do chão, no meio das pessoas. Ela tem essa abertura. Pra mim, isso foi ótimo”, contou.
Atuação como Diretor de Harmonia
Em 2014, quando a Tom Maior homenageou a cidade de Foz do Iguaçu, ele fez sua estreia como diretor de harmonia da agremiação ao lado de Gabiru – que hoje está nos Acadêmicos do Tucuruvi. Ainda cru, Yves viu a escola ficar 14 minutos parada na concentração como relógio rolando por conta de uma quebra no carro abre-alas e fez a Tom Maior, ainda assim, entregar um desfile muito bom, sem maiores percalços.
“Eu e o Gabiru a gente aprendeu muito de carnaval realmente na prática já fazendo. Planejamento de desfile, montagem de equipe, montagem de curso de harmonia. A gente aprendeu na marra porque a gente não teve uma estrutura por trás disso que pudesse consolidar realmente o nosso conhecimento. Então, foi um aprendizado muito grande, muito rápido”, afirmou.
De lá pra cá, a equipe de harmonia da Tom Maior conseguiu ganhar cancha, maturidade e experiência com uma sequência ininterrupta de cursos de aperfeiçoamento. “Todo ano tem cursos, todos os componentes da equipe tem que participar. Enquanto a gente não ganhar um título, eu não vou dizer que a equipe está preparada”, declarou Yves.
Com os ensaios de rua no Bom Retiro, a escola imprimiu um estilo consistente de desfile técnico, mas que permite que seus componentes passem soltos, sem deixar a espontaneidade e aproveitem o desfile.
“A gente aumentou o tamanho da equipe harmonia, que só tinha 14 pessoas, começamos o esquema de ensaios de rua, que não tinha na Tom Maior e foi um divisor de águas em matéria de técnica de desfile. O ensaio de rua é um momento em que você não treina só o componente, você treina a equipe de harmonia”, disse. “Os componentes cobram a gente do início dos ensaios de rua da Tom Maior”, contou.
‘O ápice foi agora no Carnaval 2020’
Para Yves, o desfile desse ano foi a demonstração do ápice do trabalho feito pela equipe de harmonia e pela gestão da escola. Depois de fazer um estágio na direção de carnaval em 2019, como ele mesmo gosta de dizer, ela voltou para o time da harmonia e viu a escola fazer mais um bom desfile de chão depois de ensaios técnicos em que a harmonia e a evolução da agremiação se destacaram.
“2020 foi o pré-carnaval mais fácil, vamos dizer assim. Com um mês antes do desfile as fantasias da Tom Maior já estavam prontas. Um mês antes do carnaval eu já pude levar os chefes de ala, os coordenadores de ala e os harmonias para o ateliê na Fábrica do Samba e fazer o pessoal provar a fantasia pra ver se os tamanho estavam de acordo”, disse.
“Foi o desfile em que eu cheguei na linha amarela de desfile mais tranquilo e focado no que eu tinha que me preocupar mesmo, que era o chão entre as linhas amarelas”, confessou.
Regulamento
Adepto e defensor de um desfile mais solto, Yves acredita que, em algum ponto, passou-se a compreender, de forma errada, que o padrão de componentes enfileirados mexendo os braços e as pernas não é um desfile militarizado. “O jurado estava vendo aquele monte de pessoas marchando e não entendia que aquilo era uma desfile militar, por orientação do coordenador de jurados”, afirmou. Para ele, o erro foi perder o controle sobre a interpretação do regulamento e, a partir daí, as escolas se acostumaram com essa facilidade de desfilar com mais organização, prevenindo erros.
“Pra quem não tem uma comunidade na mão, quem não tem um ensaio produtivo, é muito mais fácil botar o pessoal pra desfilar em linha reta, do que você colocar o pessoal para se divertir e soltar o componente. Corre o risco de o cara abrir um buraco, de o se desvencilhar um pouco dos componentes à frente e dividir a escola em dois, é mais arriscado você ter espontaneidade”, disse.
“Muitas escolas preferiram fazer o quadradinho, a planilhinha de excel, porque correm menos risco. E esse é o grande problema do desfile: a gente não bonifica o espetáculo, a gente desconta os erros. A gente acaba penalizando o cara que faz algo inovador.”
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Tiguês – Império de Casa Verde
Helena Figueira – Rosas de Ouro
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