A cada momento a mulher vem ganhando o seu espaço, não só no carnaval, mas em diversos setores. Elas quebram esteriótipos mal fundamentados e mostram a sua força. Sabendo dessa crescente, a SASP resolveu ouvir o lado das mulheres que contribuem diariamente para evoluir a cada dia o carnaval paulistano.
Na segunda matéria da série: Mulheres no Carnaval, contaremos a história e as opiniões de algumas das diretoras de baterias de São Paulo: Talita Badia, Gabriela Barranqueiro, Tamara Santana e Thalita Oliveira.
Talita Badia é filha de sambistas apaixonados pelo Camisa Verde e Branco, e por isso frequentou a quadra da agremiação desde pequena. Mas a diretora só foi desfilar em 2006, tocando chocalho na bateria da Mancha Verde. Através do convite do então Mestre da Puro Balanço, o Moleza, Talita assumiu o naipe de chocalhos em 2007. Em 2015, se transferiu para o Vila Maria e realiza a mesma função, diretora de chocalho e professora do naipe na escolinha de bateria da Cadência da Vila.
“Eu nunca passei nenhuma situação desconfortável por ser mulher. Fui a primeira diretora de bateria mulher da Mancha Verde, e sempre fui bem respeitada. Nunca quis me favorecer por ser mulher, sempre me coloquei da igual para igual com os meninos, sempre respeitando o papel de cada um, seja como mestre, diretor e ritmista. Na mesma forma na Vila Maria, sempre fui bem respeitada, inclusive na cozinha”.
Gabriela Barranqueiro iniciou no carnaval em 2004, desfilando pelo Águia de Ouro. Passou por Dragões da Real e Rosas de Ouro, até receber o convite de se tornar diretora de agogô na bateria Pulsação Nota Mil, da X-9 Paulistana em 2017. Gabriela é ritmista do instrumento há 5 anos.
“Nunca senti nenhuma situação descontável nas escolas que passei. O ser humano vai ganhando e conquistando o seu espaço, em qualquer área, profissional, pessoal e até mesmo no carnaval”.
Dentre as três diretoras femininas, a Tamara Santana é a que representa a área da cozinha. Desde os seus 8 anos de idade está presente no carnaval. Tamara começou tocando Tamborim, durante 5 anos, passou para o
surdo de terceira e, em 2015, assumiu como diretora da bateria Puro Balanço, da Mancha Verde. A única agremiação diferente que desfilou foi a X-9 Paulistana, tocando também surdo de terceira.
“A época em que a mulher era desvalorizada no carnaval já foi, hoje em dia não existe mais isso. A mulher conquistou o seu espaço no carnaval e são muito bem respeitadas. Sou um exemplo disso, sou diretora da cozinha e tenho total respeito do pessoal”.
Foi diretamente do Grajaú que a Thalita Oliveira se apaixonou pelo carnaval, mais especificamente pela Escola
de Samba Estrela do 3° Milênio. Thalita já desfilou como componente, se tornou chefe de ala, e quando a agremiação trouxe o naipe de agogô para a bateria, aprendeu a dominar o instrumento e hoje é a diretora da bateria Pegada da Coruja. Além da batucada do Grajaú, ela também coleciona passagens pelas baterias da Tom Maior, X-9 Paulistana, Vai-Vai e Tucuruvi, que neste carnaval desfila tocando surdo de marcação.
“Quando você é mulher já é inevitável ter homens te encarando e te olhando de cima abaixo, e quando se é ritmista fica um pouco mais desconfortável. Você vê olhares de quem não acredita em você, não saber tocar determinado instrumento. Eu já passei por algumas situações desconfortáveis em outras agremiações, porém continuei firme no meu objetivo e desfilei com muito amor e dedicação”.
Em diversos cenários do carnaval, enxergamos poucas mulheres atuantes nos cargos considerados superiores. Mas e dentro das baterias, a mulher é desvalorizada?
Talita Badia: “Antigamente havia a cultura de que a mulher não podia tocar determinado instrumento, ocupar certos cargos. Hoje em dia não vemos mais isso, na bateria a mulher pode tocar o que quiser, é só ter qualidade e comprometimento. Porque é claro, não adianta querer tem algum benefício ou favoritismo por ser mulher, tem que tocar de verdade”.
Gabriela Barranqueiro: “É claro que as baterias sempre foram formadas por mais homens do que mulheres, mas é difícil encontrar uma bateria que não tenha aquela mulher de apoio, de secretaria ou até de diretora. Sempre teve um toque feminino dentro da bateria, nos só fomos buscando o nosso espaço e mostrando os dons ritmicamente”.
Tamara Santana: “Antigamente as mulheres não procuravam tanto por baterias, hoje esse cenário mudou, nós mulheres sabemos da capacidade que temos, e isso não se limita só a agogô ou chocalho, e sim a todos os naipes de uma bateria.
Thalita Oliveira: “Comparado a antigamente, a mulher deu um grande passo nas baterias. Hoje temos mulheres nos surdos, caixas, terceiras, repique bossa, algo difícil de vermos anos atrás. E isso porque temos mulheres que desde antigamente lutam pelo nosso espaço. Hoje somos vistas com outros olhos, graças a essas mulheres, que se mantiveram fortes e passaram por cima do preconceito e de situações desagradáveis. Seguimos nessa luta pra mostrar que o lugar da mulher é onde ela quiser, no instrumento que quiser”.
Afinal, o que falta para enxergarmos uma mestra de bateria de escola de samba ?
Thalita Oliveira: “Acho que temos muitas mulheres no caminho certo, talvez falte espaço vindo dos diretores das escolas de samba, mas é um passo de cada vez. Tem muita mulher que quer fazer parte mas tem medo, ou timidez. Estamos aqui pra mostrar que a mulher pode sim fazer parte como diretora, e juntas podemos engrandecer as baterias com charme, disposição, comprometimento, dedicação e o amor que só nós temos”.
Tamara Santana: “Para comandar uma bateria como mestre precisa ter muita competência e dedicação. Acredito que se a mulher for assumir esse cargo, precisará da confiança do presidente e de toda comunidade. Eu torço muito pra ver uma mulher como mestre e tenho certeza que um dia isso ainda vai acontecer”.
Gabriela Barranqueiro: “Não acho que falte algo para uma mulher se tornar uma mestra, mas precisamos de mais espaços pra mostrar nossas habilidades, nossos dons rítmicos para enfim comandar uma bateria”.
Talita Badia: “Acho que com essa invasão das mulheres nas baterias, a credibilidade na qualidade dessas mulheres está aumentando. Então pode ser que em breve teremos mulheres ocupando esse cargo”.
A Sociedade Amantes do Samba Paulista parabeniza todas as mulheres que trabalham no Carnaval de São Paulo e enriquecem tecnicamente a cultura do samba nacional.