A cada momento a mulher vem ganhando o seu espaço, não só no carnaval, mas em diversos parâmetros da sociedade. Elas quebram esteriótipos mal fundamentados e mostram a sua força. Sabendo dessa crescente, a SASP resolveu ouvir o lado das mulheres que contribui diariamente para evoluir o carnaval paulistano.
Na primeira matéria da série: Mulheres no Carnaval, contaremos a história e as opiniões das novas intérpretes femininas de São Paulo: Grazzi Brasil, Dida Mattos, Carol Oliver e Tami Uchoa.
Nascida e criada como uma apaixonada do samba brasileiro, Grazzi Brasil iniciou sua trajetória com apenas 13 anos de idade, numa banda de samba rock. A cantora ingressou no carnaval nas eliminatórias, disputando Sambas Enredos na escola de samba Vai-Vai. Com pouco tempo de trabalho, foi chamada para fortalecer a ala musical da agremiação e neste ano assume o microfone principal da escola da Saracura, ao lado de Gilsinho.
“As agremiações que eu passei foi só defendendo samba mesmo, não senti nada desconfortável não. A única coisa são os olhares das pessoas né, uma mulher à frente, tal, mas nada que me deixasse desconfortável. Só quando eu me tornei a oficial do Vai-Vai que tiveram alguns comentários não muito bacanas, mas isso me faz crescer, ter cada vez mais garra”, conclui Grazzi.
Já Dida Mattos se profissionalizou no samba muito cedo, cantando num grupo formado apenas por mulheres: “Sonho Real”. Com isso, buscou estudos mais aprofundados da música e se formou em técnicas vocais na USP. Dida iniciou sua trajetória cantando na Sociedade Rosas de Ouro, passou por X-9 Paulistana, Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde e hoje compõe o carro de som da Colorado do Brás.
“Passei por alguns constrangimentos no passado, mas atualmente enxergo que tudo isso serviu para que eu amadurecesse e crescesse no carnaval. Estou muito feliz e satisfeita com a recepção da comunidade da Colorado do Brás, desde a minha chegada eu fui bem recebida e isso é o que importa no momento”, revela.
Carol Oliver é criada dentro de uma família de músicos. Durante uma visita ao show de sua irmã, Carol recebeu o convite de se tornar backing vocal do grupo “Quem sabe, Samba”. Com o tempo, Jorginho Soares avistou seu talento e a convidou para gravar coral de sambas enredos. Disputou eliminatórias e hoje complementa a equipe de intérpretes da Império de Casa Verde.
“Falta um pouco de suporte e valor para nós cantoras. O mundo sempre foi machista, mas a mudança está começando faz um tempo. Queremos o nosso espaço, sem tomar o lugar de ninguém”, revela.
Dentre as três intérpretes, Tami Uchoa surpreende com a idade em que começou na música . Com 3 anos de idade já cantava na igreja. Passou por corais gospel e se apresentou em casamentos. Durante conversa com seu primo e padrinho de samba, Juninho Branco ( intérprete oficial da Leandro de Itaquera), surgiu a oportunidade de gravar um coral de samba enredo. Passou a defender sambas e continuou gravando em coral, inclusive o CD do carnaval de São Paulo de 2017 e 2018. Tami fortalece a ala musical da Mancha Verde e do Morro da Casa Verde.
“Eu falo por mim, estou apenas há 2 anos no carnaval, e nas duas agremiações que passei sempre fui bem recebida e tive o suporte para tudo que preciso”, confessa.
O ato da Grazzi de assumir o microfone principal da Vai-Vai reacendeu uma dúvida que percorre o carnaval. Por que é tão difícil enxergarmos uma mulher intérprete oficial?
Grazzi Brasil: “Eu não entendo o porquê que fazem 15 anos que não temos uma mulher à frente desde Eliana de Lima, mesmo com muitas cantoras boas. Comigo aconteceu. Graças a Deus tenho um presidente que olhou por mim e achou que seria legal eu assumir o microfone. Na cabeça da sociedade tem que ser um homem, né. Como diz o Fernando Penteado, o samba era conduzido pelas mulheres, porque na época que não tinha microfones, as oitavas femininas eram que conduziam. Ele também fala que a Vai-Vai voltou a suas origens colocando uma mulher”.
Dida Mattos: “Na realidade eu não sei, é muito engraçado e triste. A mulher tem sim capacidade de levar à frente uma ala musical. Exemplo da Eliana de Lima, cresci ouvindo ela cantar no samba e no carnaval. Hoje o meu maior orgulho é a Grazzi Brasil, que levanta essa nossa bandeira. Ressalto também o ótimo trabalho musical da Mancha Verde, que dá espaço para as aberturas de vozes”.
Carol Oliver: “ As mulheres como intérpretes mostram uma potência vocal absurda. Eliana de Lima e Bernadete já mostraram que é possível. Temos o exemplo da minha amiga Grazzi Brasil, que está representado nossa classe feminina pela Vai Vai, que é possível sim ter mulher como intérprete”.
Tami Uchoa: “Ainda não tenho uma visão sobre o assunto. Eu penso que a mulher tem uma voz mais doce, enquanto o homem tem a voz mais aguerrida. A mulher pode sim ser a primeira intérprete, porém é necessário trabalhar em conjunto com um homem, devido aos caco feitos, para que não tire o brilho da voz feminina”.
O tempo passa e cada vez mais notamos mulheres complementando as alas musicais de diversas agremiações. As escolas de samba Acadêmicos do Tucuruvi, Unidos do Peruche, Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Unidos de Vila Maria, X-9 Paulistana, Gaviões da Fiel, entre outras, também conta com vozes femininas. Porém, qual é o futuro das mulheres no carro de som do carnaval de São Paulo?
Carol Oliver: “Prefiro deixar a critério do meu Deus” (risos) “Mas sei que será espetacular, chegamos para arrasar e agora vamos arrasar. Nesse meu segundo ano no time da Império de Casa Verde, vou mostrar mais uma vez esse segmento e representar as mulheres de São Paulo”.
Tami Uchoa: “ A mulher vem conquistando cada vez mais o seu espaço, a prova disso é a Grazzi Brasil. Creio que isso fará com que as agremiações tragam as mulheres para o carro de som, dando mais brilho para o carnaval de São Paulo”.
Dida Mattos: “Vejo um carro de som só de mulheres, escolas de samba investindo mais em nós. A voz da mulher precisa ser ouvida com uma certa atenção, não se para para ouvir o brilho da voz feminina, suas terças, oitavas, etc. É necessário mudar, inovar, modular e arriscar. Fico encantada quando vejo mulheres, no plural mesmo, em carro de som”.
Grazzi Brasil: “Eu enxergo um futuro maravilhoso, porque as mulheres são competentes sim, elas podem cantar sim. Claro, equalizar o microfone, porque a voz das mulheres é mais doce, e fazer com que se ouça. Acredito que apareça mais mulheres, sim. Vamos pra cima, a gente não pode parar nunca. Se você faz um bom trabalho, tanto pra homem quanto pra mulher, você será recompensado, é um pouco difícil pra mulher, mas o momento chega”.
A Sociedade Amantes do Samba Paulista deixa as admirações por todas as mulheres que trabalham no Carnaval de São Paulo e enriquecem tecnicamente a cultura do samba nacional.