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Na Caneta! Rafael Pinah explica o processo de criação do samba da Independente 2021

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A SASP conversou com o compositor e intérprete da Independente Tricolor, Rafael Pinah. A escola veiculou o samba oficial  para o próximo carnaval e batemos um papo sobre o samba. Em época de grandes parcerias, chama a atenção que Rafael assina o samba sozinho, o que não é incomum para ele, que já repetiu o feito na Combinados de Sapopemba, X-9 Paulistana entre outras.

Escute a obra na versão “Cante o samba“, na voz do Rafael Pinah, enquanto lê a matéria!

 

SASP: Como foi fazer o samba? Foi feito antes ou depois da pandemia?

Rafael Pínah: Esse samba nasceu em 2017, no auge das discussões políticas daquele ano. Eu percebi que as pessoas sempre puxavam sardinha pro lado que defendiam nos debates em redes sociais e ninguém dava o braço a torcer, como continua sendo até hoje. E foi assim que me inspirei pra compor um samba com a proposta de fazermos uma autocrítica e reconhecermos que o Brasil atual é resultado das nossas escolhas erradas em diversas oportunidades que tivemos de eleger nossos representantes. Na época que compus, não imaginava que o samba pudesse originar um carnaval. Mas em novembro do ano passado, tive a ideia de criar um enredo baseado na mensagem que o samba traz e iremos desfilar com essa obra no próximo carnaval.

[ESCUTE A VERSÃO ESTÚDIO DO SAMBA-ENREDO]

SASP: E como é assinar o samba sozinho?

Rafael Pínah: Na Independente é a primeira vez que assino sozinho, mas o samba de 2017 da escola também compus sozinho, na verdade. Em outros lugares, tenho mais uns 10 sambas de enredo que fiz sozinho, só que alguns deles eu assinei em parceria e outros nem assinei. Comecei a compor muito cedo (com 12 anos) e não tinha parceiro pra dividir as composições comigo. Então desde o início me acostumei a fazer samba sozinho e isso se tornou um hábito natural. De alguns anos pra cá tenho me arriscado em parcerias que também deram certo, mas compor sozinho é sempre um processo mais prático pra mim. Curiosamente, ninguém acredita quando digo que considero menos difícil compor sem parceiros, ainda mais hoje em dia que é cada vez mais comum os sambas terem dezenas de pessoas assinando como compositores.

SASP: Fale um pouco sobre o samba 2021 da Independente. Aponte quais trechos você considera fortes e que chamam atenção.

Rafael Pínah: Já considero esse samba o meu preferido dentre todos que fiz até hoje, principalmente pela mensagem forte e relevante que ele traz. Tecnicamente falando, considero que o diferencial dessa obra é a estrutura fora dos padrões atuais. Na parte de letra, a construção foi feita em forma de poesia, com rimas internas além das convencionais nos finais dos versos. O refrão central tem apenas duas linhas, pra fugir da fórmula comum de quatro linhas que temos ouvido com frequência no eixo Rio-São Paulo. Tem também um bis antes do refrão final, pra fazer um resgate desse recurso que os antigos sambas de enredo usavam e que foi ficando cada vez mais esquecido com o passar do tempo. Na parte de música, penso que o grande acerto foi criar uma melodia aguerrida em tom menor pra dar a densidade que a temática séria do enredo pede. Na minha opinião, a melodia tem que combinar com aquilo que a letra diz. Não dá pra fazer uma música do tipo oba-oba quando a letra aborda um tema sério. Assim como um enredo alegre não combina com uma melodia melancólica.

 

Botequim da SASP