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Grupos de Acesso abrem a primeira noite do carnaval de Santos

Por Tuta do Uirapuru

Oficialmente, o carnaval 2019 não começou, mas como bem sabem os amantes do samba, algumas cidades antecipam os desfiles das escolas de samba, como Vitória, no Espírito Santo e, desde 2016, a cidade de Santos, litoral sul Paulista.

Ontem, as 5 escolas do grupo 1, que desfilam sem verba pública, e as 4 escolas do grupo de acesso, que disputam uma vaga no grupo especial de 2020, deram seu recado na passarela Dráusio da Cruz, na Zona Noroeste da cidade litorânea, num show de talento e superação.

As chuvas da tarde prejudicaram algumas escolas, e devem ter colaborado para o atraso de um hora para o início dos desfiles, programado pras 20h. Às 20h18, as catracas de contagem de componentes ainda não haviam sido instaladas na concentração.

Quarta colocada em 2018, a Dragões do Castelo foi a primeira escola a desfilar, com o enredo “Entre o Sol e a Lua, e a criação do universo”, que contou uma lenda sobre a criação do universo, enfatizando os 4 elementos e a preservação da natureza.

Os problemas da escola começaram já na comissão de frente, com a cabeça de um dos componentes insistindo em cair na frente dos módulos de julgamento. Os destaques que viriam sobre o abre-alas não puderam subir na alegoria, por falta de segurança, e vieram logo atrás, no chão. A primeira porta-bandeira, Nathaly, teve problemas com sua roupa ainda na concentração, e desfilou visivelmente insegura. O bom samba, de Anderson Hulk, Barata, Borracha, Caride, Ramiro Perre, Junão Lima, Nem e Vagner, foi cantado pelos componentes, mas de forma tímida. As fantasias eram simples, mas não apresentaram grandes falhas de acabamento.

A escola acelerou o passo, e a evolução acabou se perdendo, com grandes clarões a partir do segundo módulo de julgamento, depois que a comissão de frente deixou a avenida. A ala das crianças, por sua vez, se apresentou excessivamente compacta, limitando a espontaneidade dos passistas mirins. Além dos problemas, a escola ainda deve enfrentar penalidade por ter estourado o tempo máximo de desfile em 3 minutos, adiando o sonho de voltar ao grupo de elite, onde a agremiação desfilou como Metropolitana, sempre atingindo classificações modestas, e antes da formação dos grupos de acesso.

Em seguida, apresentou a Unidos da Baixada, 5ª colocada em 2018, com o enredo “Bom de bola, bom de samba, sou Unidos de verdade, sou Cabéto, sou família e também comunidade”, homenageando o vice-presidente da verde, azul e branco, e sua ligação com o futebol de várzea da cidade, além das passagens pelo Jabaquara e pelo Santos.

A escola não apresentou comissão de frente, as baianas estavam descaracterizadas, e a bateria desfilou com apenas 19 ritmistas, abaixo do número mínimo previsto no regulamento (40). Apenas 3, das 9 alas previstas, desfilaram, e a escola não deve ter atingido o número mínimo de 350 componentes. Com exceção do casal de mestre-sala e porta-bandeira, que apresentou falta de sincronia e entrosamento, todos os integrantes desfilaram de cabeças nuas, e uma das alas tinha a fantasia composta apenas pela pala, deixando à mostra a roupa de seus componentes. O enredo teve problemas de desenvolvimento já em sua concepção, o que se refletiu num samba burocrático, cantado apenas por uma das 3 alas. A escola ainda pecou em evolução, ocupando apenas a porção esquerda da pista, durante quase todo seu desfile.

A grande surpresa do grupo 1 ficou por conta do belíssimo e correto desfile da Imperatriz Alvinegra, 3ª colocada em 2018. A escola de São Vicente levou pra avenida uma louvação aos orixás, fazendo excelente uso de destaques de chão para contar seu enredo. As fantasias estavam bonitas, bem acabadas, apresentando fácil leitura e grande conexão com o enredo. Alguns componentes estavam descalços, o que pode acarretar a perda de alguns pontos. O carro abre-alas teve falhas pontuais de acabamento. Já o tripé que encerrou o desfile, teve uma emenda improvisada em tecido vermelho, destoando completamente da escultura que fora danificada. A comissão de frente apresentou um belíssimo trabalho coreográfico, com pequenas falhas de sincronia. A escola cantou na ponta da língua o samba-enredo, e a bateria deu o recado. A escola também evoluiu muito bem, com alas coreografadas demonstrando grande empolgação. Infelizmente, a escola correu nos dez minutos finais, deixando imensos clarões entre os dois últimos módulos de julgamento. Apesar dos percalços, a escola alvinegra se credenciou ao título e à participação no grupo de acesso em 2020.

Rebaixada do grupo de acesso em 2018, a Bandeirantes do Saboó entrou na avenida como a escola a ser superada pelas co-irmãs. O enredo “Ecoa o tambor!”, todavia, não esteve bem representado na avenida. A escola optou por retratar situações onde o tambor marca presença, e o resultado foi que não se viu nem uma coisa nem outra. As fantasias, de difícil leitura estavam pouco identificadas com o enredo, e até símbolos simples, como a cana, o café e o pierrô não foram apresentados com clareza. Sem tripé, a escola levou para a avenida apenas o carro abre-alas, que trazia uma escultura com graves problemas de proporção e acabamento. A comissão de frente trouxe uma coreografia bem relacionada ao samba e ao enredo, porém com movimentos de baixa complexidade e pouca criatividade. A falta de uma espinha dorsal promoveu um samba tipo “colcha de retalhos”, e nem o refrão foi entoado pelos componentes, que evoluíram sem espontaneidade e, como nas escolas que a antecederam, houve correria depois que a comissão de frente deixou a avenida, formando buracos entre os dois últimos módulos de julgamento. O maior problema ocorreu após o primeiro casal passar pelo segundo módulo de julgamento: a porta-bandeira sentiu-se mal e foi retirada da avenida. Sucedeu-se um dos momento mais belos da noite: a veterana Lidia Aparecida, com antológicas passagens por Tom Maior e Sangue Jovem, fazia a apresentação do casal e assumiu com garbo o pavilhão por alguns minutos, até ser substituída pela segunda porta-bandeira.

Encerrando os desfiles do grupo 1, a Império da Vila, vice-campeã em 2018, levou pra avenida o enredo “Tempero do Brasil”, uma reedição de 2010, quando a escola, em seu último ano como Vila Nova, sagrou-se vice-campeã do carnaval santista, no grupo especial. Apesar de carregar nas tintas sobre o Grupo Tempero, ao qual foram dedicados 3 alas e o carro alegórico da escola, a agremiação deve brigar com a Imperatriz Alvinegra pelo título. Com um samba já consagrado, de bonita melodia e letra adequada ao enredo, a escola não apresentou problemas graves de harmonia, comissão de frente, casal, e bateria, salvo engano, a primeira da noite a apresentar naipe de tamborins. A escola teve falhas pontuais, como a falta de uniformidade nas sapatilhas de uma ala e espaçamento excessivo entre os componentes de outra ala, mas foi a primeira escola a fechar o desfile sem correria. As alegorias apresentaram acabamento razoável, com iluminação, e diversas alas estavam coreografadas.A briga com a Imperatriz Alvinegra deverá ser décimo a décimo.

Campeã do grupo 1 em 2018, a Unidos de Zona Noroeste, tradicionalíssima escola da cidade, surpreendeu na grandiosidade e no acabamento de suas alegorias, embora tenha abusado de roupas de tecidos de temática afro, para contar o enredo “Mulher, seu nome é luta pela liberdade”.

O desenvolvimento do enredo, a meu ver, deixou a desejar, eis que pouco se viu das tais mulheres negras exaltadas na descrição do enredo. Composta por veteranos do Balé Afro da cidade, a comissão de frente foi um dos destaques da verde, vermelho e branco, Apesar da bela melodia, o samba não foi cantado como o esperado, e a correria no final do desfile prejudicou não só a harmonia, como a evolução da escola, que estourou em 5 minutos seu tempo máximo de desfile, e terá muitas dificuldades para se manter no grupo de acesso.

Sete vezes campeã do carnaval santista, a Padre Paulo deverá ficar mais um ano no grupo de acesso. A segunda escola da noite a louvar orixás na avenida também apresentou diversos problemas. Uma das alas não apareceu, e o carro alegórico da escola teve problemas na concentração, sendo ultrapassado por diversas alas, o que pode ter ocasionado penalidades no enredo, apesar de que, ao meu ver, o carro não comprometeu a interpretação, na posição em que veio.

O tripé com o símbolo da escola apresentou grandes de acabamento, com ferragens a vista e a águia tombada sobre seu lado direito. As fantasias estavam um nível abaixo das demais escolas do grupo, e não apresentaram boa leitura. A comissão de frente, teatralizada, passou bem, com pequenas falhas de execução. A bateria, como esperado foi o grande destaque, sendo uma das melhores da noite. Já o chão da escola, um dos mais fortes da cidade, estava irreconhecível: a exceção da primeira ala, pouco se ouviu o canto dos componentes.

Rebaixada do grupo especial em 2018, com 11 títulos no carnaval santista e um no paulistano, a Brasil foi a terceira escola a desfilar, levando para a avenida um enredo sobre a saga de aruanã e o surgimento do povo Karajá, de temática indígena. Com fantasias de muito bom gosto, e pequenos problemas de concepção no quadripé abre-alas, a escola apresentou uma lindíssima comissão de frente, além da espetacular bateria Feitiço Brasileiro. A demora pra entrar na avenida ocasionou correria no fim do desfile, prejudicando a evolução. O samba, o mais poético da noite, não caiu no gosto do componente, embora algumas alas o entoassem satisfatoriamente. O maior problema ocorreu com o primeiro casal: a porta-bandeira Geovanna teve problemas com seu chapéu, o que comprometeu sensivelmente o desempenho do casal.

Encerrando a noite, a Mãos Entrelaçadas fez um desfile empolgante, correto e luxuoso, agraciado com os primeiros raios de sol da manhã deste sábado. Com o enredo Sinfonia Carioca, a escola não teve problemas para completar seu desfile em 43 minutos, apesar do contingente excessivo para o grupo. As alegorias, mais simples do que nos anos anteriores, mantiveram o excelente nível de acabamento. Infelizmente, a escola teve dificuldades para colocar o abre-alas na avenida: uma escultura do Cristo Redentor teve problemas para passar pelo portal, e a escola permaneceu parada na avenida por alguns minutos.

Por fim, a mão esquerda da escultura teve um de seus dedos quebrados, e desfilou com ele pendurado. As belíssimas fantasias ilustraram muito bem o enredo e, ao lado do bom samba, promoveram a necessária empolgação para que o componente evoluísse com desenvoltura, embora o canto tenha permanecido um pouco tímido. A comissão de frente, sob o comando de Janaína Marlene, foi um dos destaques, o que já ocorreu nos anos anteriores. Uma das componentes teve problemas com seu chapéu diante de todos os módulos, mas não deixou com que isso comprometesse sua evolução. Apesar dos problemas, a escola deve sair na frente na briga pelo título.

Logo mais, se apresentam às 8 agremiações do grupo especial, com transmissão ao vivo da SASP. A apuração será na próxima terça-feira.

Botequim da SASP