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Sambar_SP – Camisa Verde e Branco e o manifesto dos super-heróis (in)visíveis

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“De janeiro a janeiro o ensaio é geral o samba e o nosso ideal”. O Camisa Verde e branco busca carimbar o seu passaporte para o grupo especial do qual não participa desde 2013. O enredo deste ano é um ato em manifesto à constituição, criticando a sua forma de desamparo social. No lançamento da constituição. Ulysses Guimarães diz que ela não é perfeita: “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”.

O Camisa rememora o artigo 6 da constituição, que preza pelos direitos sociais e sobre a vulnerabilidade. A Escola nos faz uma pergunta: será que após a constituição ter sido criada em 1988, quem está no poder, consegue cumprir todos os fundamentos que estão nesse artigo? A resposta é não, porém, o enredo mostra cidadãos que saem do anonimato para virarem heróis populares, que trazem dignidade e esperança para os filhos esquecidos e invisibilidades todos os dias pelo Estado.

A escola aborda em seu enredo pessoas que, dotadas por um grande senso de justiça, protegem e amparam as pessoas que são exploradas ou esquecidas pelos governantes. O enredo em sua primeira parte faz uma reflexão sobre os brasileiros que levantam todos os dias para lutarem e muitas das vezes têm seus sonhos reduzidos a pó e são teoricamente obrigados a enriquecer poderosos para sobreviverem com um salário que é mínimo.

O Camisa diz que, grande parcela do Brasil tenta ter uma vida digna enfrentando condições insalubres de trabalho. Esses trabalhadores somos eu você, que batalhamos todos os dias para manter no final do dia um sorriso no rosto, pois no dia seguinte a luta continua.

“Até quando a pobreza irá sustentar a riqueza de homens que assolam o país?”, pergunta o Camisa em seu samba! E é assim que iniciamos a análise da segunda parte do enredo.

Na sua segunda parte, o enredo mostra que na falta das autoridades do estado cumprirem o seu dever previsto na constituição, surgem heróis do meio do povo, que protegem àqueles dos quais quem devia proteger. Na saúde, temos irmã Dulce, agora Santa, que abrigava em sua casa pessoas doentes. Na igreja, temos dom Evaristo Arns na luta dos movimentos de pessoas sem teto e defensor do MST, e Padre Júlio Lancelot na luta com as pessoas em condição de rua. Zilda Arns, médica de formação, lutou no combate da desnutrição, tratando e acompanhando mulheres, desde a gestação e auxiliando na saúde das crianças.

Na cultura, o nordeste tem como seus heróis representantes o escritor Ariano Suassuna e o antropólogo pesquisador Câmara Cascudo. Na educação, o Camisa eleva o mestre Paulo Freire, que foi um revolucionário na forma de ministrar a educação no Brasil, através de seu método que é difundido e lembrado até hoje.

O Camisa também faz uma pergunta que as pessoas do mundo se fazem: Quem mandou matar Mariele Franco? Mariele aparecerá como heroína defensora na luta das pessoas moradoras de comunidade, que ainda hoje são assoladas por milícias. Outra heroína que aparecerá será Leila González, grande antropóloga e escritora negra. Orlando Vilas Boas, o herói dos povos originários também será lembrado. A escola também trás a luta do movimento LGBTQIA+ com os folhetins Lampião da Esquina e ChanacomChana , que originaram a parada gay de São Paulo, e para fechar o enredo, a escola fará abordagem do sociólogo Herbert José de Souza, o grande herói Betinho, que criou o movimento Natal pela cidadania e foi também grande defensor dos movimentos de portadores de HIV.

O enredo trabalha fortemente a questão de voluntariado, dando visibilidade aos heróis do povo que preenchem as lacunas onde a constituição não consegue chegar. O Brasil é um dos países em que mais se pratica o voluntariado, como exemplo, temos o projeto SP invisível, que é um projeto social que busca conectar nas redes as histórias de pessoas esquecidas pela sociedade nas ruas.

E o enredo do Camisa, de forte crítica social, mostrando a luta para visibilizar os invisíveis, termina com uma pergunta: quantos heróis populares terão que nascer para que as autoridades respeitem de fato a constituição?

Autor: Pedro Araújo – Membro/SAMBAR_SP
Este texto é resultado do projeto Mérito Acadêmico – Análise dos enredos e sambas do Carnaval 2023, organizado pelo grupo de estudos SAMBAR_SP.

Instragram: sambar_sp

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