No próximo Domingo, a Colorado do Brás irá apresentar em seu desfile, pelo grupo de Acesso do carnaval de São Paulo, o enredo Luz, câmera, ação… A Colorado apresenta: A Roliúde do Sertão que conta a história de um nordestino viajante, que percorria as praças do sertão contando e interpretando filmes que ele assistia no cinema na cidade grande. E o enredo da Colorado, de autoria de Thiago Morganti, Ronny Potolski e João Marcos, é baseado no livro Roliúde. Um romance pitoresco, aventuroso e cinematográfico de autoria de Homero da Fonseca.
E hoje a SASP traz para os amigos leitores uma entrevista muito especial com Homero, que fala como toda essa história aconteceu, sua expectativa para o desfile e também confirma a presença no desfile do próximo dia 26.
Confira abaixo a entrevista:
Homero, como começou a ideia do seu livro ser enredo da Colorado do Brás?
Um dia recebi um e-mail de um rapaz chamado André Rodrigues sondando a possibilidade, sem maiores detalhes. Eu disse OK. Tempos depois, Thiago Morganti entrou em contato e foi mais específico: a escola era a Colorado do Brás e perguntava se eu autorizava a adaptação do livro “Roliúde” para enredo do desfile. Thiago também falava na possibilidade de eu comparecer. Novamente disse OK e meio que esqueci do assunto. Quando foi no começo de janeiro, recebi um telefonema de Gilson Ramalho, vice-presidente da escola, que me disse que estava tudo certo e insistia na minha presença. Falei: vamos ver. Então, dei uma olhada no site da Colorado e quase caí pra trás. A escola me pareceu muito bonita, muito comunidade, as fantasias estão lindas e o samba-enredo é de arrasar. Sensacional.
Qual a sensação de saber que a sua obra será tema de um desfile de escola de samba?
É uma sensação muito forte, muito gratificante porque, como diz a música “Nos bailes da vida”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. E o povo está no samba, o povo vai ao sambódromo, na pista e na arquibancada. Quando assisti no teatro à adaptação do meu romance pelo ator carioca João Ricardo Oliveira senti uma espécie de comunhão vibrante com a plateia. Imagino que no sambódromo será coisa parecida, ou maior.
Já havia pensado que isso fosse possível um dia?
Sinceramente, nunca havia me passado pela cabeça. Já me disseram que o romance pode dar um belo filme, mas nunca ninguém tinha levantado a hipótese carnavalesca. Foi uma surpresa e tanto. Saborosa.
Gostou da forma com que a escola contou a sua história com as adaptações feitas para um desfile?
Gostei muito. O romance traça a trajetória de Severino, conhecido por Bibiu, um sertanejo muito falante e muito esperto que ganha a vida contando filmes pelas quebradas do Sertão em troca de uma graninha. Além da história de Bibiu, o livro narra vários filmes, clássicos do cinema, da forma como ele conta, cheio da verve do sertanejo, adaptando o enredo hollywoodiano ao linguajar nordestino. O pessoal da Colorado soube captar bem o espírito da coisa e transformar a história em imagens, como a de alguns personagens de filmes, como King Kong, Charles Chaplin e O Garoto, lanterninhas, vendedores de pipoca, mocinhas e mocinhos.
O que achou do samba? Retrata o universo de Bibiu?
O samba é estupendo! Inclusive me pareceu bem inovador, evidentemente dentro das regras desse tipo de música. Tem umas modulações melódicas inesperadas, belíssimas. Também harmonicamente é cheio de bossa e, na interpretação, o uso da sanfona está uma beleza, com “citações” de temas do cinema e do sertão. É um dos melhores samba-enredo que já ouvi (dê-se o desconto de meu entusiasmo, mas prestem atenção). É samba pra empolgar, pra levantar a arquibancada, samba de campeão.
Podemos esperar o senhor aqui em São Paulo para acompanhar os desfiles?
Sem dúvida. Vou com minha mulher e não abro nem para um trem carregado de pólvora com um doido em cima fumando um charuto, como diria Bibiu.