Por Gabriella Lopes
Fotos: Igor Cantanhede/SASP
Que o desfile de 2022 é um dos mais esperados da história, não é novidade. Mas após dois anos de recesso por conta de uma pandemia, é preciso ter cautela para voltar às atividades. Em entrevista exclusiva para a SASP, o presidente da Mancha Verde, Paulo Serdan, falou um pouco sobre a preparação da agremiação durante esse período, a preocupação com sua comunidade e como a escola lida com o receio de alguns componentes no retorno aos ensaios.
Segundo o presidente, a escola começou a ensaiar cedo, mas apesar da ansiedade em poder voltar para a avenida, algumas pessoas naturalmente ainda têm um certo receio de ir aos ensaios, em função da pandemia de Covid-19. Porém, de acordo com o presidente da escola da torcida palmeirense, há uma orientação aos diretores de ala e aos harmonias a se manterem próximos dos componentes no dia a dia para compreender a insegurança de cada um e não cobrar além do necessário, afinal o período dos últimos dois anos não foram fáceis.
“Nós procuramos o tempo inteiro nos manter muito próximos aos componentes e procurar fazer uma leitura para entender os motivos de ausência e as inseguranças de cada um. Até porque não adianta a gente achar que vai fazer um primeiro ensaio no Anhembi, faltando 40 dias para o carnaval, com cinco mil pessoas. As pessoas ainda estão assustadas, por mais que tenham liberado as máscaras até em ambientes fechados, ainda existe um medo.”, destaca Serdan.
O presidente da Mancha complementa que tem observado os ensaios de outras escolas para ter um termômetro sobre a presença do público. “A gente tem visto os outros ensaios e percebemos que as outras escolas têm tido dificuldade em trazer os componentes pra pista, porque são dois anos e nesse tempo as pessoas também aprendem a gostar e curtir outras coisas. Temos nos preocupado muito nesse sentido de como resgatar o nosso pessoal, até conversei com a minha harmonia para que não se deixassem abater caso tivesse pouca gente no nosso primeiro ensaio”.
Preparativos para o carnaval 2022
Atual vice-campeã do carnaval e uma das escolas mais esperadas para o próximo desfile, a Mancha entra no Anhembi com um único foco: o título. Em meio a outras tantas escolas que vêm sendo bem avaliadas, a escola da Torcida que Canta e Vibra reconhece que vai precisar trazer novidades para a avenida a fim de garantir uma boa colocação.
“A gente tem uma montagem de escola totalmente diferente do que qualquer escola já tenha feito aqui em São Paulo. Nós éramos até um pouco mais abusados, mas tiramos o pé um pouquinho. Mas vamos vir com uma montagem diferente e vamos ver se conseguiremos o resultado que a gente quer. Acho que vai ser impactante”, ressalta Serdan.
No primeiro ensaio técnico realizado pela agremiação no Anhembi nesta temporada, na última sexta-feira (18), Serdan mandou um recado para os componentes para que apenas se divertissem na ocasião, como era o primeiro retorno à avenida após a pandemia. Mas garante que no próximo ensaio, em 9 de abril, a cobrança será maior.
“O que a gente quis mesmo era a presença do nosso pessoal e foi o que tivemos. Então a gente nem ligou pro tempo também e acabou estourando, foi meio que assim: solta aí e vamos ver como é que é. Inventamos um apagão lá no meio, que nem existia, mas inventei ali na hora com o Guma (mestre de bateria) e foi bacana para poder sentir a reação do nosso povo. Mas no dia 9 vai ser o ensaio do jeito que tem que ser mesmo”, afirma.
Ser sambista é um ato de resistência
No começo do mês, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, cortou os vínculos com a torcida organizada do clube. De acordo com Serdan, esse rompimento não afeta negativamente a escola. “Eu até brinquei em outra entrevista que, para aqueles que torcem contra, que estão felizes com isso, o resultado desse rompimento, se houver, será só para 2024, porque para o ano que vem ainda estamos bem financeiramente. O carnaval de 2022 já estava pronto e o de 2023 nós já tínhamos leis aprovadas com recursos aportados. Então a gente tem condições de iniciar com tranquilidade e sabendo o que fazer, como fazer, talvez em uma realidade um pouco menor, mas nada que a gente vá perder em qualidade, produto, brilho e visual. O resto está na mão da presidente, se ela se sentir confortável, se não se sentir também, a gente respeita e vamos tocando”, explica.
Serdan aproveitou a oportunidade para agradecer a todos os sambistas, especialmente a sua comunidade. ”Gostaria de agradecer, não só os componentes da nossa escola, mas os sambistas em geral que estão chegando nos ensaios, que estão participando. O carnaval foi muito prejudicado, então o que a gente está fazendo agora é resistência, é resistir e mostrar que o carnaval tem seu povo e que não vamos desistir. Então deixo uma mensagem de agradecimento ao sambista de uma forma geral, e ao povo da minha escola”, finaliza.
A Mancha Verde ainda irá realizar mais um ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi, no dia 9 de abril, às 21h45. Para o desfile, a escola levará para a avenida o enredo Planeta Água e será a terceira a desfilar pelo Grupo Especial no dia 22 de abril.
