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SPTuris terá que pagar uma indenização à família de carnavalesco assassinado no Anhembi em 2003

O capítulo mais triste da história do carnaval de São Paulo ganhou um novo contorno nesta semana, já que a Justiça de São Paulo condenou a SPTuris (São Paulo Turismo), empresa pública da Prefeitura de São Paulo, a pagar uma indenização de R$ 2,4 milhões à família do carnavalesco Ruy Luciano Nogueira, que foi assassinado na concentração do sambódromo do Anhembi, na Zona Norte da capital, após uma briga entre as torcidas organizadas Tricolor Independente  e o Pavilhão 9, em 21 de fevereiro de 2003.

A briga das torcidas, que pertenciam ao grupo de Blocos Especiais, organizado pela UESP, ocorreu na concentração do desfile e terminou com 3 mortos e 6 feridos. O carnavalesco foi assassinado com um tiro na cabeça. Após o tumulto, a Independente fez seu desfile e o bloco Pavilhão Nove, passou em silêncio pela pista em sinal de luto.

Segundo a reportagem publicada pelo portal G1 de Notícias, a condenação da SPTuris, em 1ª instância, ocorreu em 2016, mas, devido a uma série de recursos, a família só foi autorizada a iniciar a execução e a cobrança dos valores em dezembro de 2020. O valor total inclui danos morais e materiais e indenização pelo possível tempo de vida que o carnavalesco teria, com base em seu salário na época, além de honorários dos advogados dos pais da vítima, que foram à Justiça pelo caso, e as despesas do processo, além de correção monetária.

O portal entrou em contato com a SPTuris para comentar a condenação e a empresa confirmou que o processo “transitou em julgado e encontra-se na fase de execução (cumprimento de sentença), contudo, o pagamento da indenização está interrompido a pedido da Procuradoria Geral do Município (PGM)”. A SPTuris informou também que a parcela inicial de aproximadamente R$ 750 mil “está depositada em juízo, aguardando decisão judicial quanto à intervenção da PGM no processo”.

A família do carnavalesco ingressou com uma ação de indenização na Justiça no ano seguinte, 2004, que só agora, 16 anos depois, entrou em fase de execução, após chegar à etapa final, chamada de “trânsito em julgado”, onde não são mais possíveis recursos judiciais.

Na sentença onde dá ganho de causa à família da vítima, o juiz Maricy Ramaldi, da 9ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, considerou que ficou provado no processo “a omissão da São Paulo Turismo, que diante da situação tinha o dever de garantir a segurança não só dos integrantes de todos o blocos, mas de todos os participantes do carnaval, incluindo os funcionários e o público que estavam no local para assistir o desfiles dos blocos, e que pagaram pelos seus ingressos, e que se encontravam no interior do sambódromo”.

O magistrado afirma que houve falhas na segurança do sambódromo e na organização do evento que levaram ao encontro das duas torcidas adversárias no sambódromo.

“Por falta de segurança no local e falha na organização do evento, membros de torcidas rivais de futebol se encontraram no local, já que como restou evidenciado nos autos a organizadora do evento, e sua maior beneficiária, a São Paulo Turismo, deixou de empreender medidas que evitassem o confronto entre membros integrantes de torcidas rivais, no caso, o dos torcedores do São Paulo Futebol Clube, representados pelo Bloco Independente, e os do Corinthians, do Bloco Pavilhão 9”, disse o juiz.

Segundo a sentença, na noite do crime, o carnavalesco “trabalhava no local dando os últimos retoques no Carro Alegórico, na Concentração do ‘Sambódromo’ do Parque Anhembi, quando foi bruscamente assassinado em decorrência de invasão ao local, efetuada por membros da Torcida Independente”.

No processo, o juiz disse que a SPTuris é a única responsável pela tragédia e não cabe a transferência do caso à União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), que organiza os desfiles carnavalescos na capital paulista.

“Não há que se transferir a responsabilidade da São Paulo Turismo pelo infortúnio à União das Escolas de Samba, pois a responsabilidade pela segurança do evento, conforme explicitado anteriormente, compete exclusivamente à São Paulo Turismo. (…) O infortúnio que culminou na morte abrupta do filho dos autores, ocorreu dentro do sambódromo, em estabelecimento particular, de titularidade da São Paulo Turismo, que se beneficia diretamente do lucro obtido na exploração do evento, através da venda de ingressos, e da repercussão do mesmo na mídia, através da veiculação da publicidade, diretamente vinculada à Prefeitura do Município de São Paulo, por intermédio da São Paulo Turismo”, disse o magistrado.

Com o início da execução, a SPTuris alegou no último dia 30 de novembro que, “por causa da crise do coronavírus” em 2020, que levou ao adiamento do carnaval em 2021, “não tem caixa suficiente” para saldar a dívida de uma única vez e pediu renegociação do valor.

O juiz Luís Antonio Nocito Echevarria não colocou objeção no parcelamento, mas deu prazo para que a família da vítima se manifeste se aceita ou não. Conforme já dito, a SPTuris já fez o primeiro depósito de R$ 750 mil em juízo e diz que aguarda decisão judicial final sobre o processo.

Por conta do incidente, o bloco Independente Tricolor foi excluido do quadro de filiadas da UESP no ano de 2003, ficando afastada do carnaval paulistano por vários anos. Em 2009, após uma grande reformulação, a entidade voltou a folia como escola de samba, se incorporando ao Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Malungos, formando a Malungos Independente, que atualmente, é a escola de samba Independente Tricolor, pertencente ao grupo de Acesso.

Já a Pavilhão Nove, que na época cogitou fechar o bloco carnavalesco, voltou atrás na decisão e até hoje participa do carnaval paulistano, atualmente no grupo dos Blocos Especiais, da UESP.

Botequim da SASP