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Tom Maior exalta o protagonismo negro e levanta o Anhembi

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Segunda escola a passar pela passarela do samba na noite de sexta-feira (21), a Tom Maior animou o público presente no Anhembi com o enredo É Coisa de Preto. Marcando exatos 65 minutos no relógio, a escola da zona oeste paulistana apresentou boa evolução e harmonia e o pavilhão vermelho e amarelo veio acompanhado pelo canto intenso da escola – que se destacou ao lado da bateria na primeira noite de desfiles do Carnaval 2020.

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Trazendo fantasias bem trabalhadas e alegorias com acabamento notável, as alas da Tom se encarregaram de contar a história proposta pelo carnavalesco André Marins com leveza e equilíbrio. No lado musical, a voz forte do intérprete oficial Bruno Ribas se entrelaçou com as cordas do carro de som e com o forte acompanhamento da cantora Mayara Costa. A bateria de mestre Carlão se encarregou de arrebatar as arquibancadas e trazer a perspectiva de uma boa colocação da agremiação na apuração da próxima terça-feira.

Em entrevista para a SASP ao final da passagem da Tom Maior, Yves Alexeiv – diretor de harmonia da escola – exaltou o desfile e comemorou a realização do trabalho.

“Atingimos nosso objetivo que era fazer as pessoas pensarem e exaltarem a participação do negro na criação da sociedade brasileira. A escola veio com a proposta de deixar os componentes soltos para curtir a passagem na avenida com alegria e também para gerar uma reação espontânea ao samba. O resultado que vimos foi exatamente o planejado”, declarou.

PRIMEIRO SETOR

Trazendo a diáspora africana de uma forma mítica, a Tom Maior enalteceu o protagonismo do negro na história do mundo. Vindo com a comissão de frente composta pelos “Griots” – indivíduos que têm por vocação preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo na África Ocidental –, a escola optou por exaltar, logo na abertura do desfile, a origem do povo negro, sua cultura e sua trajetória. Seguindo a primeira ala da agremiação, o casal de mestre-sala e porta-bandeira – Jairo e Simone – passou trajando vestes com as cores tradicionais do pavilhão, o vermelho e o amarelo, que deram também a impressão de chamas – representativas da força.

Na sequência, a Tom trouxe uma ala que remeteu à travessia do povo negro pelo Oceano Atlântico. Com a predominância da cor vermelha nas fantasias, a escola chamou a atenção ao sangue – tanto o derramado no período escravocrata quanto ao simbolismo de energia e vitalidade. A cenografia apontou para o carro abre-alas, um navio que trouxe o povo negro da África ao Brasil nas costas de Olokun – orixá que representa o mar em seu estado mais temido.

SEGUNDO SETOR

O enredo É coisa de Preto veio figurado na segunda parte do desfile da Tom Maior com a exaltação do talento negro, tanto nas artes e nos esportes quanto, especialmente, na música. Wilson Simonal, Mussum, Os originais do samba, Dona Ivone Lara, Alcione, Ruth de Souza e Grande Othelo – caracterizados pela ala das baianas – e Ademar Ferreira da Silva foram alguns dos artistas homenageados nas alas do setor. A ideia da escola nesse momento foi promover um reconhecimento pela contribuição da nação negra à cultura mundial e superar o senso comum do negro como pícaro e malandro. A alegoria da seção trouxe ainda uma reverência aos grandes espetáculos protagonizados por negros.

TERCEIRO SETOR

Dando continuidade à consagração do negro na cultura, a Tom introduziu na avenida o patrimônio cultural do Brasil com a representação de escritores e escritoras, poetas e cronistas, intelectuais, escultores e artistas plásticos da sensibilidade negra. Nesse momento ganharam luz no Anhembi os feitos de Machado de Assis, Carolina Maria de Jesus, Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga – celebrados na coreografia do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira – Maria Firmina dos Reis, Milton Santos e Aleijadinho – este último aclamado também no terceiro carro alegórico “O barroco e a erudição negra”.

QUARTO SETOR

No quarto setor do desfile da vermelho e amarelo, apareceu o negro como quebrador de paradigmas e resistência contra a estrutura social de segregação. A alma negra “transgressora” foi reconhecida através de nomes do samba, do rap, do funk, dos saraus pelas periferias, enaltecendo o estilo preto de viver. Para fazer valer o trecho do samba “um legado de atitude, inspiração pra vencer”, a Tom Maior dispôs nas alas referências a Madame Satã, Mano Brown, Mãe Menininha do Gantois, Abdias do Nascimento e ao terreiro de Tia Ciata. O arquétipo do camaleão e da contravenção ficou no legado trazido pela penúltima alegoria.

QUINTO SETOR

Fechando sua passagem no Anhembi, a Tom aclamou a luta dos negros pela liberdade, igualdade e dignidade, figurando o negro como herói. A agremiação trouxe no quinto setor a força e intelectualidade de arquitetos da trajetória negra, como Luiz Gama, Elza Soares, Maria Felipa e Joaquim Barbosa, além dos inúmeros trabalhadores negros. Ao final, o último carro alegórico fechou o cortejo com a mensagem de luta por justiça do povo negro.

Botequim da SASP