Por Tuta do Uirapuru
Campeã do grupo de acesso em 2018, a Mocidade Dependente do Samba abriu a segunda noite dos desfiles em Santos, que abrigou as 8 escolas do grupo especial. O enredo “A Encantaria de Dom Sebastião nas Dunas de Upaon-Açu” foi apresentado sob chuva, com um bom samba, com um excelente refrão do meio, mas timidamente cantado pelos componentes. Alegorias e fantasias simples dificultaram o desenvolvimento do tema complexo, oferecendo poucos elementos que permitissem uma boa leitura. O terceiro carro trazia restos de fantasias sobre seu assoalho, que podem prejudicar a nota do quesito. Algumas alas apresentavam fantasias incompletas, e os saiotes das baianas estavam bastante comprometidos.
Quinta colocada em 2018, a Vila Mathias foi a segunda escola a desfilar, com uma homenagem a Mandela que foi bem desenvolvido, mas não teve a mesma qualidade na realização, com algumas alas sem qualquer elemento de identificação com o enredo, e concepção da fantasias muito similar (alas 03, 07 e 08). O abre-alas da escola prometia um baobá, que não apareceu. O segundo carro trouxe uma representação da morte apresentando todas as ferragens por baixo de um plástico preto que fazia as vezes de vestimenta da escultura. A escola ainda apresentou um tripé com sérios problemas de acabamento, resultando num conjunto alegórico muito aquém das demais agremiações do grupo. A escola evoluiu timidamente, cantando praticamente apenas o refrão do excelente samba.
A Mocidade Amazonense homenageou a cidade do Guarujá, onde fica sediada a escola. Apesar de apresentar um dos mais belos conjuntos alegóricos deste ano, as fantasias não mantiveram o mesmo nível. Duas alas (03 e 06) desfilaram sem os chapéus, e um delas trazia absoluta heterogeneidade nos calçados (ala 03). O samba, escolhido sem concurso, foi bem entoado pelos componentes, mas a evolução também apresentou problemas, em frente ao segundo módulo de julgamento, durante a apresentação do primeiro casal, e entre as alas 12 e 13, que se invadiram em alguns momentos.
Atual campeã, a União Imperial fez o melhor desfile da noite. Com um enredo sobre o circo, a verde e rosa do Marapé trouxe Scheila Carvalho novamente à frente da bateria, e Marcos Frota foi um dos destaques do abre-alas. As fantasias uniram luxo e originalidade com muita perfeição, e a agremiação abusou dos adereços de mão, o que produziu um belo efeito. As arquibancadas responderam muito bem ao ótimo samba, e a evolução não apresentou problemas, com destaque para a coreografia uniforme que os componentes desenvolviam durante o refrão do meio, produzindo um belo efeito sobre o “tapete” da escola. Sem abrir mão dos elementos tradicionais, as baianas estavam deslumbrantes e plenamente adequadas ao enredo. A única falha observada por nossa equipe ocorreu durante a apresentação do casal, lindamente vestido, com balões fazendo as vezes de costeiro.
Mais tradicional escola da cidade, a X-9 homenageou o compositor, ator, cantor e humorista Adoniran Barbosa. Atendendo a um convite da velha-guarda da escola, o homenageado “ressuscitou” na comissão de frente, e viu a obra de sua vida sendo lembrada pelos 1800 integrantes distribuídos em 15 alas e 3 alegorias. O abre-alas exaltava a boemia e a Saudosa Maloca. O primeiro setor destacou as passagens de Adoniran pelo rádio, cinema e TV. Na sequência, as alas fizeram referência às principais canções do artista, e ao grupo Demônios da Garoa. O excelente samba não foi cantado como em outros carnavais da escola, que acelerou o passo desnecessariamente a partir dos 37 minutos de desfile, e teve sua evolução comprometida. O último carro apresentou spots apagados, podendo prejudicar o quesito alegoria, eis que, embora não haja obrigação de iluminação nos carros, spots apagados equivalem a qualquer elemento estranho sobre os carros.
Com uma homenagem ao puxador de samba Aroldo Melodia, a Unidos dos Morros teve como grande destaque de seu desfile o filho do homenageado, Ito Melodia, como a voz principal da escola. A comissão de frente, composta por bailarinos do Balé Oficial da Cidade, sob o comando de Renata Pacheco, foi outro destaque, como já é tradição. Com fantasias simples, que permitiram absoluta liberdade de movimentos, o quesito deve garantir mais uma nota máxima pra agremiação da Colina. A primeira ala se destacou pela concepção, onde as cores azul e rosa faziam referência ao amanhecer e despertar da natureza. As demais indumentárias do primeiro setor, entretanto, não mantiveram o mesmo nível. Por vezes, a escola pareceu mais vestida do que propriamente fantasiada (alas 03, 04 e 05). A escola lembrou de grandes sambas puxados por Aroldo, em sua escola de coração, União da Ilha, bem como nas escolas por onde passou após brigas com a diretoria insulana. Também foi lembrado o estandarte de ouro ganho em 1986.
Sétima escola a desfilar, a Sangue Jovem contou, com muita dificuldade, uma bela lenda indígena sobre o surgimento do guaraná. Com alegorias e fantasias demasiadamente simples, a escola apresentou falhas de evolução, possivelmente decorrentes de problemas com uma das alegorias, que permaneceu parada por alguns minutos sob o pórtico da dispersão. O samba também não contagiou os integrantes.
A Real Mocidade Santista, escola bastante tradicional, mas que nunca frequentou os primeiros lugares, encerrou a segunda noite de desfiles, festejando os 110 anos da umbanda. No primeiro setor, os sete elementos, água, fogo, terra, ar, cristais, minerais e vegetais; no segundo setor, as entidades da religião. Com alegorias simples, mas com poucas falhas de acabamento, a escola evoluiu com bastante desenvoltura, e entoou o belo samba composto pelos Novos Poetas. Quem ficou até o final foi agraciado com a bela surpresa de um desfile bastante correto, que deve garantir a escola no grupo especial em 2020, sem maiores dificuldades. Tudo vai depender muito da interpretação do enredo, uma vez que as alas do segundo setor não contavam uma história propriamente dita, e suas fantasias não apresentaram originalidade na concepção.
Os desfiles podem ser reunidos em dois grupos: na briga pelo título, União Imperial desponta como franca favorita, mas X-9, Unidos dos Morros e até a Mocidade Amazonense podem sonhar. As demais 4 agremiações devem brigar contra o descenso, sendo que Dependente do Samba e Real Mocidade parecem levar vantagem sobre Vila Mathias e Sangue Jovem.
A apuração ocorre nesta terça-feira, a partir das 12 horas, no Teatro Municipal de Santos.