Por Lucas Malagone
Foto: Felipe Araujo/LIGA-SP
Finalizando nossa série de enredos, hoje vamos falar da atual bicampeã do carnaval, que está em busca do tricampeonato em 2025: a Mocidade Alegre! Com o enredo “Quem não pode com mandinga não carrega patuá”, concebido por Leonardo Antan e desenvolvido pelo carnavalesco Caio Araújo, a escola volta a abordar, quase dez anos depois, a fé e a religiosidade na avenida.
A principal abordagem do enredo se dará pelos amuletos de fé, aqueles elementos presentes em todas as crenças e religiões, que representam nossa religiosidade. O símbolo principal do enredo é o patuá, um amuleto muito utilizado no candomblé. Ele é feito de um pequeno pedaço de tecido na cor correspondente ao orixá, no qual é bordado o nome da divindade e colocado um determinado preparo de ervas e outras substâncias atribuídas a cada orixá.
“Uma história da diáspora negra, que tem como ponto de partida um objeto chamado ‘bolsa de mandinga’, introduzido no Brasil Colonial por negros africanos islamizados. O pequeno objeto guardava orações do Alcorão e se tornou sinônimo de proteção para os escravizados. Porém, quem possuía esse tipo de objeto era perseguido pela Inquisição portuguesa e acusado de ‘mandinga’ e ‘feitiçaria’.”
Os amuletos, independentemente de sua religião, são nossa proteção. A escola viaja até os tempos mais antigos para falar dos amuletos que protegiam os orientais e os egípcios e que continuam protegendo, até hoje, os fiéis islâmicos, judeus e cristãos. O objetivo é se aprofundar no significado de cada amuleto para suas comunidades, seu simbolismo e seu sincretismo. Mais do que destacar a importância dos amuletos, a escola prega o respeito religioso, ressaltando que todas as crenças têm seu espaço em nossa sociedade, em uma luta contra a intolerância religiosa. O fio condutor desse enredo é a bolsa de mandinga. A partir dela, avançamos na narrativa até chegarmos às baianas do nosso carnaval, que, segundo a escola, são os amuletos de proteção das escolas de samba. Elas são as guardiãs da história e dos ensinamentos do carnaval, responsáveis por transmitir de geração em geração os símbolos e os ritos dessa festa.
O primeiro setor da escola retrata o surgimento da bolsa de mandinga e a origem do patuá, que tem relação com a África islâmica – uma África diferente da que estamos acostumados a ver na avenida. No segundo setor, a escola aprofunda a abordagem sobre os símbolos cristãos, relacionando-os à invasão europeia ao continente africano. Nesse contexto, muitos desses símbolos foram impostos aos povos africanos, não apenas aos da região islâmica, mas a todo o continente.
Chegando ao Brasil, no terceiro setor, a escola aborda as baianas e seus balangandãs. Aqui, a narrativa começa na Bahia, explorando a relação das baianas com os diversos amuletos e objetos de devoção presentes nas ruas baianas, como os inquices – esculturas de madeira carregadas para proteção contra o mal. Esse setor trata, além do surgimento dos balangandãs, da formação do sincretismo religioso brasileiro. O país, ao longo de sua história, foi moldado por diversos povos, cada um com suas religiões e amuletos, e esses elementos passaram a fazer parte do nosso dia a dia, estando presentes nas escolas, nas ruas, no trabalho e no lazer.
O quarto setor pretende exaltar o orgulho pela fé e seus símbolos, com foco nas religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Aqui, destacam-se as guias de proteção, as bolsas de mandinga e os amuletos relacionados a cada orixá. O enredo reforça a importância do combate à intolerância religiosa, ressaltando que ninguém precisa ter vergonha de sua fé. Por fim, a escola fala sobre sua própria relação com a fé e os amuletos. Quem nunca fez uma mandinga para garantir um bom desfile? Quem nunca colocou uma figa dentro da fantasia para proteção e sorte? E, claro, o terço nas mãos da presidente Solange Cruz, que já se tornou um símbolo eterno em todas as apurações.
Poucas escolas têm a fé e a religiosidade tão presentes em sua comunidade. É a crença no trabalho, na dedicação. É a fé em ser campeã do carnaval. E é assim, com o terço na mão e pelo fim da intolerância religiosa, que a Mocidade Alegre busca mais uma estrela para seu pavilhão. A Morada do Samba será a terceira escola a desfilar neste sábado de carnaval, no Sambódromo do Anhembi.
Confira o clipe oficial de 2025 da Mocidade Alegre aqui.