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Enredos 2025 – Conheça a homenagem da Colorado ao afoxé Filhos de Gandhy

Pavilhão do enredo da Colorado do Brás de 2025 - Afoxé Filhos de Gandhy

Por Lucas Malagone

Hoje a SASP começa uma série de matérias destrinchando os enredos das 14 escolas do Grupo Especial. Neste mês, a cada dois dias, até os desfiles, vamos mergulhar nas histórias que serão contadas na avenida para que você, amante da festa, fique por dentro desse espetáculo cultural incrível. A primeira escola que vamos trazer é a vice-campeã do Acesso 1 2024 e que abrirá os desfiles do Grupo Especial em 2025, na sexta-feira de carnaval (28): a Colorado do Brás, que retorna à elite do samba paulistano após dois anos.

Completando 50 anos em 2025, a escola do Brás levará para a avenida o enredo “Afoxé Filhos de Gandhy no Ritmo da Fé”. O enredo desenvolvido pelo carnavalesco David Eslavick, que fará sua estreia na entidade, mergulha na história, origem e importância cultural de um dos mais antigos afoxés do Brasil, o Filhos de Gandhy, localizado em Salvador, na Bahia.

Antes de mais nada, é importante explicarmos que Afoxé é o nome de uma manifestação popular de origem africana, cujo ritmo é o Ijexá. Muito forte e presente no candomblé, ele segue com cânticos, dança e batuques em cortejo saudando seu orixá protetor. Sua manifestação é considerada patrimônio cultural da UNESCO.

O afoxé Filhos de Gandhy originalmente surgiu como bloco, em 1945, fundado por estivadores e com o nome “Comendo Coentro”. O bloco tinha como grande objetivo brincar o carnaval, mas ao mesmo tempo mostrar que os estivadores eram pessoas da alta sociedade, e por isso, as vestes do bloco eram sempre terno, gravata e sapatos alinhados.

Porém, com a grande greve desses trabalhadores no final de 1947, não foi possível o bloco desfilar no carnaval de 1948. Foi então que em 1949, Durval Marques, o famoso Vavá Madeira, propôs que o grupo desfilasse apenas com panos brancos enrolados ao corpo, simbolizando a paz. O nome Filhos de Gandhy foi adotado porque os fundadores do bloco reconheciam a importância do líder hindu, Mahatma Gandhi, que havia sido assassinado um anos antes e sua morte causou uma grande repercussão. No primeiro dia, desfilaram apenas 36 participantes e, como o sindicato estava sob intervenção governamental, os associados resolveram mudar a grafia do nome Gandi e inseriram as letras “dh” e substituíram o “i” por “y”.

Com o passar do tempo, o bloco cresceu e se difundiu por Salvador e por todo Brasil, levando hoje em torno de dez mil pessoas em seu cortejo, tornando assim o maior afoxé do país.

Além de apresentar sua história, o enredo mergulha em sua religiosidade, com uma influência predominante no candomblé. A escola vai se debruçar nos ritos, rituais que predominam no Afoxé, além de contar um pouco sobre os Orixás e Santos protetores como mostra a sinopse da escola:

“E então, por uma ordem do destino e através dos pais de santo, são escolhidas as cores oficiais do bloco.

O branco, cor predominante, é baseada em Oxalá. O Deus maior do panteão dos orixás, com seu Opaxorô é símbolo da paz maior. Grande padroeiro do afoxé, simboliza também os preceitos de Gandhi. E traz a pomba branca para o símbolo do afoxé até os dias de hoje, que se associa ao camelo, símbolo da sabedoria de Mahatma.

O azul vem de Ogum. O santo protetor do bloco. Ogum que tem sua espada como sua arma, é o Deus da força e da coragem. Traz o elefante como símbolo da sua força e da sua coragem. Símbolo este que está marcado na marca oficial dos Filhos de Gandhy até hoje.

Mas no fim da década de 1960, o bloco vinha com uma grande crise financeira. É então que Ápio Patrocinio, mais conhecido como Camafeu de Oxossi, assume a presidência e reergue através das ajudas espirituais e financeiras do governo a tradição dos filhos de Gandhy. Camafeu até hoje é lembrado por aquele que trouxe de volta o bloco, mas também que deu as diretrizes espirituais.

Como promessa pela nova chance do afoxé, Camafeu promete que em todas as lavagens do Bonfim desde aquele dia, terão a presença dos filhos. E claro, com a sua grande vertente ao sincretismo, o santo que é símbolo da paz, faz seu sincretismo com Oxalá, símbolo do bloco.

E por fim, Santa Luzia é posta como padroeira maior do bloco pelo lado católico.”

Caetano Veloso e Gilberto Gil são alguns dos artistas que participam do Afoxé Filhos de Gandhy

Um momento interessante que o enredo se propõe a mostrar é a ligação entre o afoxé da Bahia e o pacifista indiano Mahatma Gandhi, que tinha como características acreditar em pactos de não agressão para resolução de guerras, principalmente durante a luta de independência da Índia, que era um território do Reino Unido. Um espírito de luz, bondoso, e é justamente esse espírito de luz, alegria e bondade, que o Afoxé repassa todos os anos, uma ligação que somente o carnaval pode nos proporcionar.

Por fim, a escola vai mostrar a importância cultural, não somente do carnaval, que o Afoxé Filhos de Gandhy representa, mantendo sua raiz cultural extremamente forte e fincada no centro do Pelourinho, desfilando aos domingos e segundas em um dos maiores carnavais de rua do mundo. Sua importância é tão grande, que diversos artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Daniela Mercury, Jorge Ben Jor, Jorge Aragão e Clara Nunes, entre outros, já exaltaram o bloco através de canções.

Veja abaixo o clipe oficial do samba 2025 da escola.

Botequim da SASP