Por Lucas Malagone
Foto: Felipe Araujo/LIGA-SP
Chegamos à reta final da nossa série sobre os enredos de São Paulo! Agora, vamos falar sobre o enredo dos Acadêmicos do Tatuapé. Terceira colocada no último carnaval, a escola vem em busca do seu terceiro campeonato em 2025 com o enredo intitulado “JUSTIÇA – A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”, desenvolvido pelo carnavalesco Wagner Santos. A escola propõe uma reflexão sobre o que é justiça e o que é injustiça. A frase-título do enredo, de Martin Luther King, faz alusão à necessidade de uma nação justa para garantir controle e respeito.
O enredo é desenvolvido, inicialmente, por meio de uma linha do tempo histórica da formação da justiça na sociedade, passando pelo Egito Antigo e pelo Oriente até sua consolidação no Império Romano e sua evolução até os dias atuais. E paralelamente, a escola questiona: o que é justiça? O que é injustiça?
“Nas sombras do passado, onde os ventos sussurram segredos ancestrais, a Justiça levantou seus pilares. Numa jornada através dos tempos e das culturas, a narrativa da justiça se desenrola como um épico de proporções universais, tecendo os fios da humanidade em uma rede intricada de valores, lutas e conquistas.
Desde os tempos mais remotos, a injustiça foi reconhecida como uma ameaça não apenas local, mas universal, uma sombra que paira sobre todas as sociedades e clama por redenção. No caos do mundo antigo, onde a vingança reinava soberana, o princípio do “olho por olho, dente por dente” ditava a lei, perpetuando um ciclo de violência e dor que parecia interminável. Não era esse o ideal; a justiça tinha que ser luz para iluminar o caminho em busca da verdade e da paz.”
(Trecho extraído da sinopse oficial da escola.)
A primeira parte do enredo abrange justamente a formação dos pilares do que conhecemos hoje como justiça. Aqui, a escola dá ênfase à Grécia e à Roma Antiga, abordando o processo de formação dos tribunais e julgamentos por meio dos pensamentos filosóficos que debatiam moral, razão e emoção. O conceito de certo e errado começou a se consolidar na justiça que conhecemos atualmente. No entanto, ao longo dos séculos, esse ideal foi deturpado para que aqueles com mais riqueza e poder permanecessem imunes às consequências de seus atos, oprimindo grupos com base em etnia e gênero e perpetuando uma sociedade machista e patriarcal.
Um dos pontos interessantes do enredo é a reflexão sobre aqueles que impõem a chamada “justiça divina” em nome dos deuses e de suas religiões. Muitas vezes, no entanto, ao tentar fazer justiça, acabam cometendo injustiças. A escola alerta para a necessidade de buscarmos um mundo justo e igualitário no presente, em nossas terras, lembrando que a justiça divina deve ser aplicada pelos deuses, e não pelos homens.
“Nos recantos sombrios da Inquisição, onde as chamas da intolerância ardiam como um fogo impiedoso, o homem ousou distorcer a face da Justiça em nome da fé e do poder terreno. Sob o pretexto da verdade divina, as masmorras se encheram de almas inocentes, e os corações se endureceram com o peso da opressão. A ignorância em nome de Deus pairava como um corvo sobre os mosteiros e as catedrais. Os inquisidores brandiam tochas, e os hereges eram queimados nas fogueiras. A balança, agora pesada com dogmas e penitências, oscilava entre o medo e a esperança.
Mas, mesmo nas trevas mais densas, a luz da Justiça Divina nunca se apagou completamente. Ela se manifestava nos sussurros daqueles que ousavam desafiar a tirania, nos gestos de compaixão dos que se recusavam a ceder ao ódio e à crueldade. Nos cantos dos trovadores e nas palavras dos poetas, a esperança ecoava como um eco eterno, proclamando a promessa de um dia em que a Justiça Divina prevaleceria sobre as sombras da injustiça.”
(Trecho extraído da sinopse oficial da escola.)
Nos tempos mais modernos, a escola relembra as lutas por uma sociedade mais justa, começando na França, com a Revolução Francesa e a resistência dos iluministas contra a opressão. Em seguida, passa para a luta negra nos Estados Unidos, com foco em Martin Luther King, e destaca a atuação de Nelson Mandela pelo fim do apartheid na África do Sul. Aqui, também é ressaltada a importância da ONU na busca pela paz entre os povos ao redor do mundo.
O enredo então dá um salto para o Brasil, abordando a luta pelo fim da ditadura militar e a homologação da Constituição de 1988. A partir desse ponto, a escola propõe reflexões sociais com o Brasil como plano de fundo, destacando o direito a um trabalho mais justo, a luta contra as desigualdades sociais e o impacto de leis como a Lei Maria da Penha, que protege mulheres contra a violência. Além disso, são abordadas a liberdade religiosa, a proteção a imigrantes e a defesa dos direitos da comunidade LGBTQIAPN+.
“A Acadêmicos do Tatuapé acredita que a justiça ideal é como a luz que brilha nos recantos mais escuros da humanidade, iluminando os caminhos da igualdade e da compaixão. É o eco das vozes silenciadas pela opressão, clamando por redenção e esperança. É a promessa de um amanhã onde as lágrimas da injustiça serão transformadas em sorrisos de dignidade e respeito. É a busca incessante por um mundo onde cada ser humano seja valorizado não pelo que tem, mas pelo que é. E, acima de tudo, é a convicção de que, mesmo diante das sombras mais densas, a luz da justiça sempre encontrará um caminho para brilhar.”
Ao pregar a justiça na sociedade, os Acadêmicos do Tatuapé se vestes de mensageiros da paz, da igualdade e do respeito, e, dessa forma, espera conquistar mais uma estrela em seu pavilhão. A escola será a quinta a desfilar nesta sexta-feira de carnaval, no Sambódromo do Anhembi.
Assista o clipe oficial da Acadêmicos do Tatuapé de 2025 aqui.