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A nossa arte que renasce a cada ano, por Fábio Parra

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Dentre as inumeráveis formas de expressão artística que existem, essa aí, chamada escola de samba, me escolheu para ajudar a construí-la. É uma arte coletiva, que tem a gestação de um ano, um parto de 65 minutos e logo em seguida morre, morre de maneira deslumbrante como uma onda no rochedo. E aí vira embrião de novo e repete esse processo todo ano. Todo ano tão igual e tão diferente, como onda que bate de maneira deslumbrante no rochedo.

Essa arte é coletiva, envolve saberes e outras artes milenares. Somos atores, dançarinos, cantores, instrumentistas, desenhistas, pintores, escultores, costureiros, bordadores, chapeleiros,sapateiros, aderecistas, coreógrafos, diretores de cena, curadores, gestores culturais.

O festival anual a que nos propomos concorrer e avaliado tecnicamente, mas não se iludam: o que nos motiva a seguir é algo tribal, intuitivo, passional, produzido com os cinco lados do cérebro (o direito, o esquerdo, o de dentro, o de fora e o do próximo). Essa arte tem a perfeição cirúrgica e a dor de um parto.

Essa arte mistura a saliva e o suor de acadêmicos, analfabetos, ricos, pobres, bonitos, feios, negros, brancos, amarelos, azuis, vermelhos, juízes, réus, bolsominions, petralhas, moderados de Amoêdo e Ciro, trabalhadores, ociosos, somos de tudo. Temos a alta cultura construtiva e libertadora, e também temos sub-celebridades da TV aberta. Promovemos o protagonismo e o respeito à individualidade, décadas antes de a educação pensar nisso.

Decifrem-nos e devorem-nos… Que se virem os antropólogos, estetas, semiologistas e filósofos: somos indústria cultural, cultura de massa, cultura popular, cultura de resistência, metalinguagem, clássicos, medievais, barrocos, românticos, modernistas, conceituais, chiques, bregas, kitsh, conservadores, progressistas, vanguardistas e subversivos ao mesmo tempo! Somos essa arte em que cabe tudo, cabe todos.

Qual é o nosso objetivo? Quando uma arte tem objetivo, ela deixa de ser arte. Somos arte porque somos arte e pronto! Não sei como é a vida fora da arte! Eu sou isso. E não estou sozinho: somos centenas de milhares!

Por Fábio Parra, saspiano e um entre as centenas de milhares de sambistas desse país

Botequim da SASP