Dando sequência na segunda noite de desfiles no Anhembi, a Colorado do Brás trouxe para a avenida a exaltação da história de um dos mais famosos personagens da história mundial com o enredo “Que rei sou eu?”. Para ilustrar a trajetória de D. Sebastião, rei português que ficou muito conhecido no Brasil pelos que clamavam a monarquia na época da recém inaugurada república, a agremiação da zona central de São Paulo apostou em uma rica paleta de cores para as fantasias e alegorias.
Com uma passagem organizada e compacta pela avenida, sem grandes problemas na evolução, a Colorado se destacou pela voz firme de Chitão Martins – que mais uma vez comandou a ala musical em uma noite de grande interpretação. Acompanhado pelo carro de som e seus músicos, o intérprete oficial levantou os componentes e as arquibancadas com a voz forte e irretocável. A Bateria Ritmo Responsa, que há sete carnavais é comandada por mestre Allan Meira, terminou por encantar o sambódromo.
Na saída do desfile, Chitão Martins conversou com a equipe da SASP e apontou quais foram os melhores pontos da escola na passagem pelo Anhembi.
”O desfile foi muito bom dentro do possível, compacto, alegre e divertido do meu ponto de vista. O samba é bem interessante e se adaptou tranquilamente para o que eu procuro trabalhar no meu canto. Por ser a terceira vez consecutiva que essa parceria de composição ganha na Colorado, acredito que isso facilita a interpretação. As arquibancadas vieram junto com a gente e o resultado foi maravilhoso”, analisou.
PRIMEIRO SETOR
Apostando no enredo que conta a história de D. Sebastião, o Colorado do Brás trouxe para a avenida um desfile englobando todas as nuances de um dos personagens mais enigmáticos da história. Logo na comissão de frente, as joias da Coroa portuguesa foram representadas pelos dançarinos, que vieram contando o encontro de duas nações – Brasil e Portugal – e mostrando as encantarias e lendas sobre dom Sebastião.
Apresentando na sequência o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira com as vestes da Corte Real, a escola focou em ressaltar as maiores influências do rei, para em seguida promover uma homenagem aos seus principais gostos. A ala das baianas veio com a missão de mostrar a fé e representar o sentimento de devoção que faz enaltecer a mente e engrandecer a alma. Já o carro abre-alas, uma grande construção representativa do paraíso, teve como motivação mostrar os sonhos e a esperança de uma nação e a narrativa dos primeiros passos de D. Sebastião como novo rei.
SEGUNDO SETOR
Para a segunda parte do desfile, o Colorado começou mostrando os espanhóis – grandes guerreiros e grandes aliados do rei Dom Sebastião na grande batalha que a viria mudar sua vida. Com a ala do grande exército do sultão, a escola encenou a guerra de Alcácer Quibir – a maior da história do rei português. Levando também a representação de outras nações que ajudaram Portugal durante a história, como os alemães e os italianos, a agremiação quis listar uma série de eventos que tornaram a figura do protagonista do enredo tão conhecida. O segundo carro – a grande fortaleza – fechou o setor mostrando a cobiça de D. Sebastião pelas riquezas do Marrocos, inserindo também a questão muçulmana como ponto de virada para a montagem cênica do desfile.
TERCEIRO SETOR
A designação de D. Sebastião como louco foi o ponto de partida do terceiro setor do Colorado, que indicou a fé e a devoção do rei em alas de jesuítas e santos padroeiros, além de inserir o cristianismo como grande relevância para a atuação de D. Sebastião no comando do reino português. O terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira trouxe a memória da inquisição promovida pela igreja católica, dando uma introdução ao que seria apresentado na terceira alegoria – um templo de fogo e libertação que mostrou como a igreja e a fé foram responsáveis por diversas transformações ao longo da história do mundo.
QUARTO SETOR
Se encaminhando para o final, a quarta parte do desfile da escola do Brás foi toda preparada para contar os bastidores do sumiço de D. Sebastião, indicando seu refúgio em mosteiros e no Vaticano com as duas primeiras alas da seção, para depois representar seu ressurgimento através de lendas e mistérios. A Índia – suposto lugar onde o rei passou seus últimos dias também ganhou destaque, com fantasias luxuosas de pavão que simbolizaram a riqueza do país. O quarto carro sintetizou a ostentação do personagem com um baile de máscaras em Veneza – cidade conhecida pela atmosfera carnavalesca e festiva que também pode ter acolhido D. Sebastião em seu período de sumiço.
QUINTO SETOR
Para encerrar a passagem pelo Anhembi, o Colorado trouxe a mistificação que foi criada em torno da história de D. Sebastião, com a homenagem ao mito do sebastianismo pelas figuras de Antonio Conselheiro e sua Guerra de Canudos. A festa do boi bumbá também foi lembrada e um casamento entre o rei e a lua terminou por consagrar a lenda do rei português. A última alegoria representou as belezas raras do Maranhão, onde D Sebastião teria se encontrado como brasileiro e livre das contradições da coroa portuguesa.